domingo, 20 de dezembro de 2009

- Dioguinho: O bandido lenda no sertão

1. Famílias corridas por Dioguinho que se estabeleceram em Santa Cruz do Rio Pardo 
Texto de carta registro de 1872, assinada pelo Revdo Padre Francisco 
José Serodio, onde diz do menino Dioguinho já assassino
Diogo da Rocha Figueira, Diogo da Silva Rocha ou Diogo da Rocha Faria, alcunhado Dioguinho, foi o mais famigerado quadrilheiro que aterrorizou o interior paulista, no final do século XIX, especialmente o nordeste do estado, região mogiana. Também era conhecido por Antonio Modesto (Correio do Sertão, Santa Cruz do Rio Pardo, 01/11/1902: 2).
Sem correlação aparente com o Vale do Paranapanema, absolutamente nada ali o referenciaria não fossem as observações do santa-cruzense 'Joaquim Negrão Monteiro', descendente de famílias vindas de São Simão - SP, no final dos anos de 1800. 
Segundo Negrão, os fazendeiros Cândido Cyrino de Oliveira, João Antonio Maciel, Mizael Gonçalves de Oliveira e famílias agregadas se fixaram no município santacruzense, após supostos envolvimentos na morte do facínora Dioguinho, em 1897, considerados os documentos e reportagens sobre os fatos, 'Dioguinho, O rei do gatilho', matéria de Claudina Albuquerque Zanderico - com a colaboração de Eugênio Marcondes Di Francesco (Revista Já, edição de 20/04/1997: 28-31).
Registros de famílias em Santa Cruz do Rio Pardo, final dos anos de 1890, confirmam presença do Coronel Mizael Gonçalves de Oliveira nas regiões atuais de Chavantes, Fazenda da Cachoeira, conforme mapa do município santacruzense, de 1915 (CD: A/A, gentileza do Museu de Chavantes – SP) e de Ipaussu, então Ilha Grande, e Fazenda Mombuca, conforme citação de José Amandio Sobral (Correio do Sertão, 07/02/1903).
Do interesse, também, o ramo 'Cunha Bueno'tradicional família de cafeicultores nas regiões de Rio Claro, São Carlos, Santa Eudóxia e adjacências, por Henrique da Cunha Bueno, filho de Francisco da Cunha Bueno - o Visconde de Cunha Bueno - e dona Eudoxia Henriqueta de Oliveira, que deixou a região de influência familiar para fixação em Santa Cruz do Rio Pardo, onde certo a sua presença nos anos de 1897/1898 (Câmara Municipal SCR. Pardo, Sessão Especial de 30 de outubro de 1898), atuante na emancipação política de Ilha Grande - atual Ipaussu, onde possuia fazenda.
—Henrique era cunhado e primo do médico Alfredo Ellis, célebre fazendeiro e político republicano, algumas vezes Deputado Federal e Senador, mandato ininterrupto, entre 1891 a 1925.

2. Dioguinho - botucatuense - seu primeiro crime, ainda na infância
Não há quem melhor descreva a infância e os primeiros tempos de Dioguinho, que o botucatuense Moacir Bernardo, autor de 'A Vida Bandida de Dioguinho' (2000). 
Diogo da Rocha Figueira, o Dioguinho, nasceu aos 09 de outubro de 1863, em Botucatu - SP, com provas pelo Registro de Batismo de 13 de outubro daquele ano (Livro Eclesial de Batismo, Botucatu, 1859-1864), filho do português Avelino da Silva Rocha natural da freguesia de Pedorido, Província do Porto - Portugal, e de Emirena Augusta d’Oliveira, mineira de Pouso Alegre. Foram os avôs paternos João da Silva Rocha e Anna Correa de Almeida, e os maternos, Diogo Figueira de Azevedo e Leopoldina Augusta de Oliveira; padrinhos Francisco José de Barros e sua mulher Maria Benedita de Campos, sendo batizador o Reverendo Padre Salvador Ribeiro dos Santos Mello, todos residentes em Botucatu.
As historíolas são muitas e todas apontam Dioguinho um menino inteligente, que cursou primeiras letras, porém dotado de comportamento extremamente agressivo, vocacionado para líder de crianças desajustadas e rebeldes, às quais não raras vezes surrava com seu chicote. Sua crueldade também era desmedida, com os animais que, certa feita, teria colocado o gato de estimação da família dentro de um forno em brasa, para assar pães, e fechou a porta (Bernardo, 2000: 10-11).
Nada indica que Dioguinho tenha sido criança exposta à violência adulta e nem testemunha de atos de agressividades; seu pai era austero, mas não lembrado como espancador, arruaceiro ou desatinado com a família. 
—Para a época atual Dioguinho seria um menino doente, salvo melhor juízo, com 'Transtorno de Personalidade Dissocial' notada pela conduta agressiva em idade precoce, hostilidade exagerada e ausência de empatia com os seres vivos, com variáveis para perversão. Mas, no seu tempo, isto era visto como a monstruosidade personificada - ou possuído pelo demônio, transgressor de regras e limites, capaz de matar, certeza consolidada por volta de 1871 ou 1872, quando Dioguinho matou seu irmão adotivo de três anos de idade.
O seu primeiro crime, ainda criança, teria acontecido "ao subir numa prateleira para pegar alguma coisa, com o seu irmãozinho de criação por perto, caiu uma tampa de ferro, que atingiu a cabeça da criança, a qual veio a falecer."(Bernardo, 2000: 12).
O episódio, propositado ou não, entrou no rol das lendas em torno do facínora, todavia confirmado real em 2010 por SatoPrado, num escrito do reverendo padre Francisco José Serodio, pároco em São João de  Domingos em 1872, ao descrever que em "Botucatu (...) tinha naquella esquina onde he hotel Areias uma venda do pae desse malvado assassino chamado Deoguinho que tava somido he o que diz um antigo portuguez" (Livro Eclesial, São Domingos, 15 de março de 1872, Livro I, folhas 39 e 40). 
Dioguinho tinha, então, a idade de nove anos.

3. Vida profissional e casamento
Em 1878 Dioguinho encontrava-se residente em Botucatu, frequentador de rodas de capoeira, empregado como auxiliar em agrimensura, aos 15 anos de idade, profissional três anos depois quando "fez serviços agrimensorais na Fazenda Lageado (...) para o fazendeiro e Doutor João Batista da Rocha Conceição, seu novo proprietário" (Bernardo, 2000: 13). 
No período meteu-e pelo menos numa confusão, ao defender ancião, negro, contra a sanha de dois jovens embebedados, segundo Brandão, surrando-os com golpes de capoeira, quebrando o braço de um deles que brandia uma faca, e a perna do outro (2000: 14).
Casou-se aos dezoito anos, em Itatinga, com Antonia de Mello, e foi ser folheiro no lugar, em sociedade como o concunhado Antonio Camardeli ou Caranderlli. Vocacionado para agrimensura deixou a sociedade e foi residir em Tatuí, por uns tempos, e depois em Mato Grosso de Batatais, atual Altinópolis.
Em Altinópolis a mulher o abandonou para retornar ao lar paterno, com relatos de violências domésticas por parte do marido, também viciado em jogos de azar e uma namorada, Marquinha, que Bernardo informa filha de certo Antonio Pombeiro (2000: 37).
Não são relatados filhos de Dioguinho.

4. Os primeiros assassinatos
Excluído neste capítulo a ocorrência da morte do irmão de criação de Dioguinho. sem méritos de juízo quanto a sua culpabilidade. Dioguinho era menor de idade.
Os crimes citados mais parecem amoldamento referencial ao gênio explosivo de Dioguinho ou a sua defesa pelo mais fraco, cujas versões somente divulgadas após a fama do homicida.

4.1. O crime inaugural
Bom profissional, constantemente requisitado pelos fazendeiros do café, o que lhe facilitava constantes e demoradas viagens, conhecimento de pessoas importantes e ávidas por invadir terras alheias, a qual preço fosse. Poderia aí estar, e com certeza foi, o início da carreira criminosa de Dioguinho, colocando-se à disposição de proprietários para execuções de serviços sujos ou do crime.
Entretanto são interessantes as lendas da iniciação de Dioguinho na senda dos tantos assassinatos a ele atribuídos pelas tradições, sendo o primeiro assassinato aquele ocorrido em Tatuí, em 1881, quando Dioguinho na defesa "do seu irmão mais novo João Dabney e Silva (Joãozinho)" (São Simão - histórias e outras fontes), matou a golpes de punhal o gerente de um circo estacionado na localidade.
As versões desse possível crime são diversas e em localidades diferentes, as principais dando conta que Joãozinho, com apenas dez anos de idade, em Tatuí, fora apanhado dentro do circo sem pagar ingresso; ou, ainda, em Botucatu, quando o pai o teria obrigado devolver o ingresso adquirido sem sua autorização, com negativa do gerente que ainda teria esbofeteado o garoto, provocando a ira e ação assassina de Dioguinho, que foi absolvido do crime, por agir em nome da honra e defesa de incapaz.
O feito certamente não aconteceu à maneira tratada, até porque Joãozinho era mais velho que Diogo, posto nascido em 05 de fevereiro de 1860, de acordo com Registro de Batismo de 03 de janeiro de 1861 (Livro Eclesial de Batismo, Botucatu, 1859-1864). Outro irmão, Theofilo, também era mais velho que Dioguinho, tendo nascido aos 18 de janeiro de 1859, de acordo com o Registro de Batismo datado de 13 de fevereiro do mesmo ano (Livro Eclesial de Batismo, Botucatu, 1856-1859).

4.2. O segundo caso
Este considerado o segundo crime teria sido em defesa da honra da irmã (Alves, 2010: 1), ou sobrinha ou prima de acordo com outras variantes, desonestada e abandonada pelo namorado. Dioguinho, inconformado, saiu à busca do vilão para ajustes a respeito, proposta de um casamento diante dos fatos, mas a negativa e o deboche do galanteador fizeram com que Dioguinho o matasse a pauladas, na antiga Vila do Passe Três, atual cidade de Cesário Lange, na época pertencente ao município de Tatuí. Dioguinho livrou-se desta sob a argumentação de legítima defesa da honra.
Dioguinho teve uma irmã chamada Lydia, nascida aos 27 de julho de 1865, data observada em Registro de Batismo de 15 de outubro de 1865 (Livro Eclesial de Batismo, Botucatu, 1864-1874).

4.3. Crime igual citado com outros valentões
Quanto ao terceiro assassinato, este teria sido por motivo torpe, e não existe uma única localidade onde o evento teria de fato ocorrido. Um inadvertido jovem sentara-se sobre o novo chapéu de Dioguinho, posto numa cadeira, gerando discussões e agressões que culminaram com a morte do incauto. O assassino livrou-se da cadeia, justificando legítima defesa contra suposta agressão da vítima.

4.4. Tiro acidental
Outro feito de Dioguinho acontecera quando ele e um amigo, primo, administrador ou o próprio dono de uma fazenda, envolvidos numa caçada em Jaboticabal, abateram uma ave e, com isto, a altercação sobre quem atirara primeiro ou acertado a presa. No calor da discussão Dioguinho tirou a vida do companheiro, com alegado disparo acidental.
Deste ultimo feito, uma observação acrescida à lenda, demonstra o assassinato planejado, e que Dioguinho não foi ou não seria absolvido, e então se evadira para Nossa Senhora da Piedade de Mato Grosso de Batatais, atual Altinópolis, onde permaneceu numa fazenda, por tempos, sob a proteção de um coronel que o entendera útil para livrar-se de adversários políticos, fundiários ou aqueles de cunho pessoal, numa época em que as eliminações, castigos ou perseguições aos inimigos e adversários, com ou sem envolvimentos de familiares ou agregados, eram práticas constitutivas, aceitas e até exigidas socialmente, porque os liderados esperavam, sempre, atitudes assim de seu líder. 
O tal Coronel teria recomendado Dioguinho a outros fazendeiros e mandatários na época, quando então conheceu políticos, coronéis, juízes de direito e ricos negociantes. A partir daí, lenda e realidade interpenetram-se, e Dioguinho especializa-se no crime, agindo às ocultas, assassino sem rosto, com identidade protegida pelos clientes.

5. Profissionalização no crime
Dioguinho era, então, visto e apresentado, como pessoa de bem, em diversas localidades do interior paulista, ora como oficial de justiça, jovem político, filho de algum Coronel ou importante membro republicano, partícipe de convenções partidárias realizadas em Cravinhos, Itu, São Simão, Ribeirão Preto e Tatuí.
Muito já se falou de Dioguinho, desde homicida cruel ao bandido social, que indistintamente a todos metia medos num tempo de Brasil sertão, mesmo no estado paulista, recém escapado da escravidão e do sistema de governo imperial.
Os primeiros relatos sobre a vida pregressa do bandido aconteceram na imprensa escrita, representada pelos jornais, Estado (antes Província) de São Paulo, Correio Paulistano e Diário da Noite, entre outros, com destaques para os crimes e as críticas quanto a atuação policial paulista, incapaz de deter o bando. Não se tratavam de reportagens sensacionalistas, porém permitiam interpretações apologéticas ao crime, cujas divulgações chegavam a outros rincões do Brasil e, também, ao exterior.
A imprensa, no entanto, mudaria seu comportamento, a partir de meado de 1896, quando a polícia resolveu de vez acabar com o bando, e as publicações se tornaram amenas em causa da dependência dos jornais por informações oficiais, em prejuízo às façanhas de Dioguinho e suas práticas fora da lei.
As reportagens diziam, então, dos avanços exitosos da polícia sobre o bando que se esfacelava, ou que a prisão [ou morte do líder] era apenas questão de tempo. De fevereiro ao final de abril de 1897 os jornais, Estado de São Paulo e Correio Paulistano, disputavam fontes privilegiadas, informando os cercos promovidos pela policia, o acesso aos esconderijos, as prisões que ocorriam. O Correio Paulistano, no calor da disputa com o concorrente Estado de São Paulo, numa de suas publicações, até antecipou ação policial a ser deflagrada.
Afora a imprensa ou, em parte, motivada por ela, Dioguinho também era manchete em hebdomadários interioranos e motivo de debates populares. Tradições indicam que o chefe e todo o bando foram temas de músicas e poesias repentistas, de louvações e de desafios, nos bailes e festas, infelizmente perdidas no tempo, pela tecnologia que não permitia gravações, surgida somente décadas depois do desbaratamento da quadrilha, nos estilos cancioneiro regional e sertanejo. 
As fontes oficiais de pesquisas, da época, se resumem em escassos documentos policiais e judiciais, muitos propositadamente forjados, cujos remanescentes mais prestam às interpretações especializadas que às informações propriamente ditas. No entanto restou a imprensa escrita a permitir reconstituições através de matérias, inclusas aquelas assinadas por autoridades policiais, porém quase nada das torturas utilizadas pela polícia para a obtenção de informações.
Nos anos de 1900 algumas obras destacaram-se. 'Dioguinho, narrativa de um cúmplice em dialecto' (1903), do Delegado de Polícia Antonio de Godoy Moreira e Costa, primeira narrativa e vista como versão literária das ações do criminoso sendo que o autor sabia muito da personagem a quem combatera tenazmente. Costa, sob o pseudônimo Silvestre da Mata, assinava artigos sobre Dioguinho, publicados em jornais da época.
Através do Delegado Costa foram conhecidas as tantas façanhas de Dioguinho, os registros (inquéritos) policiais arquivados, até então desconhecidos, as correspondências - bilhetes e registros de empreitadas entre o bandido e os seus contratadores, o comprometimento de autoridades, agentes policiais, fazendeiros e políticos, e a enormidade de mortes decorrentes pela ação do bandido e de seu bando. Para alguns, provas forjicadas.
Depois, em 1949, outro Delegado de Polícia, João Amoroso Netto, publicou diversos artigos no Jornal da Noite (edições de 1949), fundamentando-se em Costa e em informações levantadas junto às Delegacias de Polícia do interior, especialmente de São Simão. Amoroso Netto iria mais além, ao publicar a obra 'Dioguinho. História completa e verídica do famoso bandido paulista' (1949), pretensões abalizadas em tradições orais tidas idôneas pelo autor. Entusiasmado, o Delegado Amoroso Netto ainda viu um artigo seu, 'O Dioguinho' publicado na Revista do Departamento de Investigações da Polícia (1949).
A versão cordelista dos feitos de Dioguinho saiu por conta do poeta Antonio Teodoro dos Santos, no "Encontro de Lampião com Dioguinho" (1960). Era inevitável não traçar algum paralelo entre Dioguinho e Lampião, ambos, reis de seus lugares na opção de vida, e Dioguinho morto no ano em que nascia Lampião, 1897.
Todos os escritos sobre Dioguinho fizeram bastante sucesso, mas a variante publicada mais recentemente, "Dioguinho, o matador dos punhos de renda", de João Garcia, publicação Casa Amarela em 2002, ganhou notoriedade muito mais pela sugerida homossexualidade do bandido, situação desacreditada pelo próprio Garcia. 
Num dos esconderijos de Dioguinho foram encontrados diversos disfarces, como bigodes, perucas e roupas femininas, certamente para enganar seus perseguidores.
A história de Dioguinho chegou às telas em 1917, ainda nos tempos do 'cinema mudo', com o filme 'Dioguinho (As aventuras de Dioguinho)', gênero policial, lançado pela Fundação da Paulista Filmes, sob a direção e produção de Guelfo Andaló e Farid Riskala, com roteiro e argumento de A. Padalino e fotografia de João Stamato, elencado por Antonio e Elvira Latari, Georgina Marchiani e Antonio Rolando. 
Em 1957, outro filme nacional, 'Dioguinho', dirigido por Carlos Coimbra, estrelado por Hélio Souto, e participação dos artistas, John Hebert, Rosa Maria Murtinho, Norma Monteiro e José Policena.
Aconteceria, ainda, um terceiro filme (2002), 'Dioguinho', produção independente e atores amadores da cidade de Brodosqui [Brodowski] - SP, com proposta de fidelidade histórica, baseado na obra de Ariovaldo Quaglio.
Mais recentemente destacam-se páginas na Internet que narram episódios da vida de Dioguinho, muitas sem referências e até imprestáveis, outras sérias e devidamente referenciadas, além das teses, dissertações e trabalhos escolares que primam pelo desvendamento e causas da vida pregressa de Dioguinho, então retratado em suas múltiplas facetas, desde bandido social ou fruto do meio e época, às situações de assassino de aluguel, chefe de bando e homicida cruel.
Sobre o assunto, e de grande utilidade, os autores consultaram o trabalho "Alem da Justiça. O homicida Dioguinho e seus cúmplices", de Marilia Schneider, doutora em história pela USP e sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

6. 'O mito Robin Wood' - roubava dos ricos e distribuía aos pobres 
Figura lendária, não se sabe a sequencia de crimes cometidos por Dioguinho, se todos foram realmente de sua autoria ou inspiração, mas ganhou renome e muita proteção de interessados em seus serviços. Por estes e outros aspectos não é tarefa fácil desvendar aspectos psicológicos de Dioguinho, porque este se tornou mito pela cultura popular, como personagem do imaginário ou irreal.
Bandido social, por muitos, Dioguinho extorquia dos ricos para doações aos pobres, e contava com o apoio dos segmentos menos favorecidos da sociedade. Carregava também a aura de justiceiro, homem inconformado com as mazelas e desigualdades sociais. Um estudo mais acurado revela-o aliciador de membros para o seu bando, comprador de silêncio e favores dos pobres, para que estes não o denunciassem à polícia, quando impossível refugiar-se junto aos protetores graúdos.
De 1892 a 1897 Dioguinho era um profissional do crime. Neste período foram cerca de cinquenta assassinatos brutais conferidos a ele, e duas centenas de outros suspeitados, certamente façanhas repassadas ou incorporadas que lhe serviam para aumentar o respeito e o temor.
Seus crimes de morte carregavam como assinatura a decepação de uma das orelhas da vitima, e com elas não apenas comprovava a realização da empreita como servia para feitura de um rosário, ou seja, uma enfiada de 165 peças, com as quais rezava 'horas marianas', lenda igual às atribuídas a outros matadores de sua época. 
No ano de 1895, em Batatais, Dioguinho teria cometido o seu mais audacioso crime, assassinando, com requintes de crueldades e motivos torpes, José Venancio de Azevedo Leal e o consogro João Baptista de Souza Maia, "vitimas escolhidas para saciarem os seus instintos essencialmente ferozes" (Dr. Pedro Arbues da Silva Junior, Promotor de Justiça, publicação em 11 de junho de 1897 pelo Correio paulistano - texto integral).
O fazendeiro Azevedo Leal era Capitão [da Guarda Nacional] e Subdelegado de Polícia de São Simão. Intencionalmente ou não, também foi morto na ocasião João Batista de Souza Maia, ambos sócios influentes da Companhia Melhoramentos de São Simão, para serviços ferroviários e de navegação fluvial. Suspeitou-se de crimes sob encomenda. 
A Companhia Melhoramentos fundada por Jorge Fairbanks em parceira com a Intendência Municipal, representante de uma associação de cafeicultores, contrariava interesses daqueles que pretendiam a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação. Um grupo e outro disputavam o leito férreo dentro de sua propriedade e interesses, com respectivas gares, sem dúvidas excelentes negócios.
Com repercussão negativa e necessidade de satisfação pública, o governo paulista determinou ao Chefe de Polícia. Francisco da Costa Carvalho, montar unidade policial com seus melhores homens para as investigações e prisões dos mandantes e executores.
A missão falhou, fragilizada pela divisão em frentes diversas e a necessidade em contar com a polícia interiorana. Era como se alguém antecipadamente soubesse cada passo ou batida policial.
A polícia da capital não desconhecia a ação de Dioguinho nem ignorava a força e o mando dos coronéis junto às delegacias interioranas e do poder judiciário local, aliás, até entendiam esses mandatários como força representativa do próprio governo através dos deputados.
Qualquer protegido dos coronéis somente seria detido se alguém do seleto grupo resolvesse denunciá-lo, com provas cabais de onde se encontrava e sob qual proteção. Os grandes jornais da época exploravam essa ineficiência oficial, e as cobranças populares aumentaram.

7. O cerco, comprometimentos e a morte de Dioguinho
Dioguinho precisou movimentar-se, atraído para uma armadilha ou pela necessidade em levantar dinheiro, conforme entendimento pela versão oficial. O facínora tentou extorquir o Coronel Francisco Bomfim ou Bonfim, talvez já tivesse feito isto com outros coronéis. Bonfim resolveu não apenas desatender o assassino como denunciá-lo à polícia. 
A oficialidade cala-se, compreensivamente, quanto às possíveis delações do Coronel Bonfim, e apresenta como denunciante Balbina Maria de Jesus, prostituta que bem conhecia o bando de Dioguinho e tinha visto o assassinato seu amante, Marciliano Pereira Machado, pelo próprio Diogo, por encomenda de Manoel Ferreira, o marido ou apaixonado da mulher.
Balbina, testemunha do ocorrido, fora surrada violentamente e, após recuperação, chegou a São Paulo para denunciar em detalhes os feitos de Dioguinho, seu bando e os protetores. A Polícia, de posse das denúncias mais acertadas, recomeçou as investigações sob as ordens do Delegado Antonio de Godoy Moreira e Costa, acompanhado do Coronel Pedro França Pinto, à frente de um batalhão.
As reportagens jornalísticas agora saiam afinadas com as ações policiais.
Mais de uma vintena de fazendeiros, suspeitos de cumplicidade com Dioguinho, foram presos, entre eles Cândido Cyrino de Oliveira e Reginaldo Marques Gomes (Juiz de Paz), em Cravinhos; os aparentados João Antonio Maciel e Mizael Gonçalves de Oliveira, ambos de Ribeirão Preto com vínculos em São Simão; Marinho Soares e João dos Santos, de São Simão; e certo Capitão João Mariel.
As ordens judiciais para prisões dos mencionados fazendeiros, e outros ausentes, foram fundamentadas no inquérito policial elaborado pelo Delegado Costa, dispensados os méritos que tal autoridade policial era filho do influente Desembargador Miguel de Godoy Moreira e Costa. 
As investigações, mediante violências, incomodaram muitos coronéis regionais e locais, e as investigações apontaram outro comparte, o fazendeiro e deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Henrique Amâncio de Souza Jordão, e já se sabia onde Dioguinho estava homiziado, numa das fazendas de Alfredo Ellis, médico, fazendeiro e eminente político republicano, algumas vezes Deputado Federal e Senador, ininterruptamente, entre 1891 a 1925.
O envolvimento de Ellis não foi imediatamente divulgado, nem ele foi preso, defendido pelo advogado Rui Barboza (Barbosa), um dos maiores vultos da história brasileira e no ramo do Direito.
O cerco fechou-se em torno de Dioguinho que estaria escondido na Fazenda Cunha Bueno, de propriedade de Alfredo Ellis. A invasão foi brutal, sendo presos o administrador José Pires de Sant’Ana (Santana), o empregado Libânio Pinto Goulart, e os capangas de Dioguinho, Eliseu Prudente, o mensageiro Joaquim e o canoeiro Agostinho, mas não encontraram o chefe e nem João o seu irmão.
Uma carta apreendida de Diogo a Santana revelava que os irmãos estavam em Botucatu, mas a ausência do envelope com timbre do correio fez desconfiar o Coronel França Pinto que o bandido chefe, o seu irmão João e alguns dos comparsas ainda estivessem na região.
Não se enganara o Coronel, e o empregado Goulart logo revelaria o esconderijo numa ilha do Rio Mogi-Guaçu ou, simplesmente, Mogi. Souberam, ainda, que a um sinal convencionado, Dioguinho e os comparsas deixariam o esconderijo. Os policiais então ardilaram a captura atraindo-os para a travessia do rio, porém, a precipitação de um tiro pelo lado policial deu sequencia ao tiroteio entre as partes, morrendo todos do bando, exceto Dioguinho que se jogou na água e seu corpo jamais encontrado.
A despeito de não encontrarem o corpo de Dioguinho, as autoridades deram-no como morto em 1º de maio de 1897, mesma data da emboscada, sem revelação exata do lugar ou na propriedade de quem. Alguns relatos dão conta do encontro de uma dentadura, em ouro, que o facínora usava, como prova que teria morrido no embate.
O envolvimento do 'impoluto' Alfredo Ellis, o parlamentar paulista da República, causou constrangimentos para setores do governo e fez mudar versões como realmente ocorrera a exitosa diligencia policial. Não se podia admitir, oficialmente, a descoberta do Delegado Costa e do Coronel França Pinto, que Dioguinho e seu bando estivessem homiziados numa propriedade de Ellis, omitindo inclusive a violenta invasão policial como de fato teria acontecido.
Para a versão oficial ajustou-se que o administrador Santana seria primo e acoitador de Dioguinho, sem a ciência do patrão, à mesma maneira que o capanga da fazenda de Ellis, Libânio Pinto Goulart, voluntário e herói na Guerra do Paraguai, ambos denunciados pelos membros do bando de Dioguinho, Eliseu, Joaquim e Agostinho, capturados numa refrega anterior, ainda que não esclarecida a impassividade ou a teimosia do cabecilha em permanecer na região, mesmo diante das ausências daqueles seus comandados, sabidamente presos, e fatalmente o denunciaram mediante tortura.
Ainda que intempestivamente, depois de acertos, declarações e desmentidos da polícia para a apresentação de versão final oficial, comprovadas por cartas encontradas, de Dioguinho para Santana, que isentavam o ilustre parlamentar Ellis, ainda assim este romperia politicamente com Manuel Ferraz de Campos Salles - Presidente do Estado de São Paulo (mandato de 1895-1898), a culminar com a dissidência do PRP em 1901.
Enquanto se pensava nalguma versão oficial, sem comprometimentos, para satisfazer o Ellis e minorar o clamor público, o Tribunal de Justiça de São Paulo fazia sua parte com a concessão de 'habeas-corpus' aos presos e procurados. A tese seria aquela do advogado Alfredo Pujol, defensor de João Antonio Maciel, avocando cumplicidade presumida, ou seja, prisão antes da culpabilidade de Dioguinho reconhecida pelos tribunais.
A decisão foi técnica, não unânime conforme deveria ser, juridicamente crítica e sem arrazoabilidades por deixar impunes aqueles que durante anos foram cúmplices de Dioguinho, seus sustentadores e protetores.
No ato da declaração oficial o Ministério Público deu sua colaboração em não citar onde estava ou esteve Dioguinho, em seus últimos momentos, e o Coronel Francisco Bonfim não apareceu na trama.
Os processos foram todos arquivados.

8. O retorno de Dioguinho
A não apresentação do corpo de Dioguinho foi um desastre perante a opinião pública e causou sérios embaraços às autoridades. Dioguinho não teria morrido naquele encontro armado no Rio Mogi. 
A suspeita ganhou manchetes quando, aos 02 de junho de 1898, o Coronel Francisco Bonfim foi tocaiado e morto em Cravinhos. Então, Dioguinho estaria vivo e à caça de seus detratores. 
Pouco depois Libânio Pinto Goulart desapareceria, dizem que assassinado por Dioguinho e lançado no Rio Mogi; um inquérito policial a respeito não comprovou suspeitas que Dioguinho estivesse vivo.
Para as autoridades, oficialmente o bandido estava morto. e os acontecimentos seriam rivalidades entre os coronéis que não toleravam famílias vinculadas aos envolvidas no caso Dioguinho, que já haviam deixado a região mogiana, migrando para Santa Cruz do Rio Pardo, rico município no Sertão do Paranapanema, onde já residentes alguns parentes desde os anos de 1880.
A conclusão não satisfez a opinião pública, e as aparições de Dioguinho eram cada vez mais constantes, em localidades diversas nos estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso (quando unificado) e em cidades paulistas, entre outras, nas regiões de Assis, Candido Mota, Botucatu e até em São Paulo - Capital.
Teria sido preso em Minas Gerais, em 1902: 
—"Dioguinho vivo? É esta a epigraphe com que o decano da Imprensa Paulista (Correio Paulistano) está dando ao publico conhecimento das pesquisas feitas no Estado de Minas, pelo seu reporter para tal fim commissionado no reconhecimento do facinora Antonio Modesto ou Dioguinho na requisição do Chefe de Policia daquelle para o deste estado" (Correio do Sertão, 1º 11 1902: 2, pelo correspondente paulistano Ismael de Barros, 22/10/1902).
Efetivamente o Correio Paulistano enviara para Minas, como repórter, o ex-delegado de polícia, Antonio de Godoy Moreira e Costa, mas o tal preso não fora reconhecido como Dioguinho, com versão diferente que bandido evadira-se antes da chegada de Moreira e Costa.
Moacir Bernardo menciona que "Vários parentes de Dioguinho afirmam que ele veio a falecer em 1947, de morte natural" (2000: 61).