domingo, 20 de dezembro de 2009

10. Da Serra Botucatu - as primeiras anotações e sesmarias

10.1. O entradismo de Antonio Bicudo - reconhecimento geográfico
Anotações imprecisas, por volta de 1720, com a Serra de Botucatu em destaque
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/
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O entradista Antonio Bicudo, em 1620, subiu a Serra de Botucatu e atingiu as cabeceiras do Rio Pardo, para reconhecimento territorial e a preação indígena, com as primeiras descrições dos seus campos e matas entre os rios Guareí, Paranapanema, Tietê, morros da Serra de Botucatu - zona sudoeste e as cabeceiras do rio Pardo. Oficialmente, tais pontos indicativos entraram nas cartas geográficas como referências para as entradas pelos sertões (Bicudo, 2009). 
Para o sertanista Bicudo, portanto, não seria desconhecido o caminho religioso que, a partir da Serra Botucatu chegava aos aldeamentos jesuíticos do Paranapanema, trecho de extrema valia para as entradas e bandeiras no aprisionamento de índios para a escravização.
A genealogia familiar de Antonio Bicudo mostra-o filho de Antonio Bicudo [Carneiro], que foi Ouvidor-Mor da Comarca e Capitania de São Paulo. Bicudo Carneiro e seu irmão Vicente Bicudo, oriundos de Portugal [Ilha de São Miguel], fizeram nomes como bandeirantes e ricos fazendeiros residentes em Carapicuíba – SP, onde possuíam terras requeridas junto à Câmara Municipal de São Paulo, em 1607, propriedades aumentadas por outras posses requeridas, por exemplo, terras da Serra Jaraguá, onde faiscavam ouro.
A empreitada de Antonio Bicudo, no entanto, não despertou interesses a quem se dispusesse assumir responsabilidades em apossar, cultivar e povoar aquelas terras ainda não sesmadas.
Os índios sobreviventes da terrível missão de Antonio Bicudo retornaram, acomodando territórios com tribos chegantes para juntos, ainda que divididos, apossarem de vez da Serra e formar um atrativo para preações. 
Dentre os conhecedores dos melhores e mais seguros caminhos da Serra de Botucatu, e das trilhas sertanejas adiante, destacaram-se os bandeirantes e entradistas da família Campos Bicudo.

10.2. Outro Bicudo - agora Manoel de Campos, de passagem
A oficialidade informa que foi outro membro da família Bicudo, o lendário entradista Manoel de Campos Bicudo, quem passou pelos campos de Guareí e regiões de Botucatu, em 1673, com destino às confluências entre os rios Cuiabá e Coxipó, como primeiro europeu a pisar aquelas bandas ocidentais da colônia, ainda sob a dominação espanhola. Fazia parte da expedição o Antonio Pires de Campos, mais tarde conhecido por Pay Pirá, filho de Manoel Campos Bicudo (Morais, Diário de Cuiabá edição nº 9.916, de 08/04/2001).
Resguardadas divergências de informações entre pesquisadores ou, ainda, de homonímia, Antonio Pires de Campos seria filho de Antonio Bicudo e Anna Pires, neto de Vicente Bicudo, conforme descrito em Paiva/Bicudos. Entretanto, documento oficial português declara que os Antonio e Manoel seriam irmãos, de acordo com a Carta Régia de D. José, por intermédio do Conselho Ultramarino ao Conde dos Arcos, Governador Capitão Geral da Capitania de Goiás: "substituindo Antonio Pires de Campos por seu irmão Manoel de Campos Bicudo, no combate aos índios Caiapó, no caminho de São Paulo para Goiás." (Siarq/Unicamp, Documentos Históricos 2337: Pt 322 P68P).
Talvez, em 1673, não tenha sido mera passagem dos Bicudos pela região, e sim interesse maior pelas terras Guareí e Botucatu, admitindo-se permanência de parte da equipe para melhor levantamento territorial, potencial de riquezas e, sobretudo, verificar onde postadas tribos indígenas sobre a serra, quantificação de seus indivíduos e perigos oferecidos.

10.3. Origem do nome 'Botucatu' - as diferenças gráficas
Comumente aceito, Botucatu, do topônimo tupi: 'Ybytu katu' significa 'bom ar, bom clima ou bom vento', sempre associado à serra, com diferentes grafias em português, conforme entendimento fonêmico, 'Votu-Katu [Votucatu], Botu-katu [Botucatu], Uvu-Katu [Uvutucatu], Ubu-Katu [Ubucatu]', e outras variantes a exemplos de 'Buiticattu, Vuiticattu, Vytycatu, Botucatuhe, Wotucatu e Bitu-gatu.'
Também citado Botucatu advindo de 'Motuú-Catu', sendo 'Motuú' dias bonitos (alegres) e 'Catu' bom, com o significado 'bons alegres dias', e por expressar região, 'lugar de bonitos dias', entendimento de 'Salvador Mendonça' em 1867 no seu trabalho 'Significação alfabética dos nomes indígenas da Província de São Paulo', publicação seriada pelo jornal Ypiranga (edição nº 58, de 09/10/1867: 2).
Mendonça fundamentou seus estudos na obra do jesuíta Luiz Figueira: 'Dicionário e Gramática da Língua Geral dos Indígenas' (1621); no 'Dicionário da Língua Tupi', do estudioso e conhecido poeta, Antonio  Gonçalves Dias, publicado na Alemanha, entre 1854/1859, pelo editor Brockhaus; e na obra do médico e doutor em Botânica, Carl Friedrich Philipp von Martius (1794/1868), dedicada ao Brasil: 'Glossalia Linguarum Brasilensium [Línguas brasileiras], 1867', reunindo os termos indígenas colhidos pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, ambos numa missão pelo Brasil entre 1817/1821.

10.4. As primeiras sesmarias e ocupações
Dos detalhamentos de 1673 se explicam a eficiência das razias e dadas promovidas pelo Capitão-Mor Jorge Correa, no ano de 1680, na região da serra, visando, em primeiro plano, não somente capturar indígenas, e sim eliminar as hordas selvagens postadas no alto da serra, com extremada violência, que entrou para a história como o mais temível exterminador indígena do século XVII (Apud Donato, 1985: 33 e 38-nr 1).
O governo intencionava distribuir sesmarias, livres da presença indígena, àqueles dispostos em explorar as terras e nelas levantar povoados, para melhor infraestrutura quanto ao processo de interiorização. 
Tal processo, no entanto, não se mostrou processo fácil, pois os índios que sobreviveram à fúria do Capitão-Mor Jorge Corrêa se postaram nas encostas e furnas das morrarias, onde "com facilidade de manobras, em terreno conhecido, os silvícolas perseguidos faziam-se atacantes" (Donato, 1985: 33).
Pelos relevantes serviços prestados à Coroa e Colônia foram agraciados com melhores lotes de terras na região, Antonio Pires de Campos [Pay Pirá], em Guareí, seu irmão José de Campos Bicudo, em Botucatu, além de parentes diretos e colaterais, dentre estes destacado o cunhado [Capitão] Antonio Antunes Maciel (Domingues, 2003: 10), todos descendentes de conhecidas famílias bandeirantes, entradistas e sesmeiros em regiões de Carapicuíba, Serra do Jaraguá, Sorocaba, Itapetininga, Itu, Tatuí, Jaú, São Carlos, Boituva, Franca e outras localidades.
O Capitão-Mor Antonio Caetano Pinto Coelho, feito Governador Sesmeiro e Loco-Tenente da Capitania de São Vicente, sediada em Itanhaém, também se assenhoreou sesmaria em Botucatu, por concessão real, sendo tal senhor parente da família dos Campos Bicudo.
Sem eficácia quanto aos propósitos, por aparente desinteresse das famílias beneficiadas, em princípios do século XVIII, a Serra de Botucatu era apenas ponto de referência e caminho àqueles que demandavam o sertão.
No ano de 1705, constata-se, ainda nenhum branco fixado no alto da serra, apenas índios ameaçadores que outra vez dominavam a região, tanto que, no ano seguinte, 1706, deu-se o entradismo etnocida e preador de João Pereira de Souza, que conseguiu ser "o mais duro dos escravagistas que provocou o deserto de homens na região, por cem anos aproximadamente" (Donato, 1985: 33). 
O Mapa Corográfico de São Paulo, de 1737, apresenta o primeiro estudo das regiões da Serra dos Agudos, Lençóis Paulista e terrenos para as margens do Tietê (Comissão Geográfica e Geologia do Estado de São Paulo – Relatórios).
A Serra de Botucatu, também foi representada por desenhos esquemáticos pelos jesuítas espanhóis na 'Carte du Paraguai et des Pays des Memoires Sur les Voisins Espagnol et des Portugais et en particulier ceux des RR. PP. de la Campagnie de Jesus' (MB Ing. De la Marine, 1756), e serviram de base para o mapa apresentado pelo Padre Pierre François Xavier de Charlevoix, em 'Carte Du Paraguay et des Pays Voisins', versão 1768. 
A empresa Doroty Sloan, leiloadora de livros raros, ao apresentar a obra aos clientes e interessados, descreveu sobre o autor Charlevoix: "Embora ele não tenha conhecimento pessoal da área, fez um excelente uso de muitos documentos espanhóis colocados à sua disposição" (SLOAN Dorothy – Auctions Leilão 20: 2014). Para Donato, sem excluir os padres jesuítas espanhóis, "Não será despropositado atribuir aos senhores da Fazenda de Botucatu [1719/1759], os informes relativos à serra" (1985: 33).—
Ambos os trabalhos teriam sido repassados pelos padres inacianos, donos da fazenda em Botucatu entre 1719/1759, e daí, pela primeira vez, o nome Botucatu.

10.4.1. Sesmarias ao longo do caminho para Iguatemi - desde a Serra à margem do Turvo
- Dos antigos caminhos religiosos e bandeirantes
Informes historiográficos apontam que o entradista Antonio Bicudo, no ano de 1620, deixando o caminho Peabiru subiu a serra do Botucatu e atingiu as cabeceiras do rio Pardo, para reconhecimento territorial e preação indígena, com as primeiras descrições dos seus campos e matas entre os rios Guareí, Paranapanema, Tietê, morros da serra - zona sudoeste e as nascentes do citado Pardo. Tais indicativos entraram nas cartas geográficas como referências para as entradas e bandeiras pelos sertões (Bicudo, 2009).
O monsenhor Aluisio Almeida, estudioso jesuíta, a seu modo explica o curso deslocado da estrada pré-cabraliana Peabiru, que "subiu a serra [Botucatu], ganhou as cabeceiras do Pardo (Pardinho) antigo Espírito Santo do rio Pardo e desceu aquele rio até as alturas de Santa Cruz do rio Pardo, donde passou para o afluente Turvo e saiu nos Campos Novos do Paranapanema (nome mais novo)" - (1960: 41), sem prejuízo ao trecho prosseguinte até o Salto das Canoas, a partir de onde navegável o Paranapanema em direção às Reduções Jesuíticas - 1608/1628 e rio Paraná.
De uma ou outra maneira, pela Serra Botucatu, antiga trilheira em território que viria ser Santa Cruz do Rio Pardo serviu de passagens aos padres espanhóis e demandadores dos sertões, desde a serra ao Salto das Canoas ou Quebra Canoas, também conhecido por Paranan-Itu, no Paranapanema, em atual município de Salto Grande. Cartografia oficial de caminhos paulistas, séculos XVII e XVIII, confirma o uso do Paranapanema desde sua barra ao Salto das Canoas, numa viagem com duração média de vinte dias (AESP: BDPI: Cart325602).
No referido mapa a anotação sobre Sorocaba - SP, "Essa Villa foi feita cidade por El Rey Felipe 3º para dar-lhe o nome de S. Felipe no tempo de Francisco de Souza Conde do Pardo em 1611."
Conde do Prado ou do Pardo - ambas as grafias mantidas, título nobiliárquico português concedido por D. João III a D. Pedro de Sousa (1468-1563), mantido nos tempos filipinos pelo filho D. Francisco de Sousa, escolhido pelo rei espanhol D. Felipe II - I de Portugal (1580/1598) para ser o Governador-geral do Brasil (1592-1602), depois, por D. Felipe III da Espanha e II de Portugal (1598-1621) para novo governo além-mar, de 1608 a 1611, sendo-lhe prometido o título de 'Marquês das Minas', todavia morreu em 1611, sem o agraciamento prometido.
Em 1719 instalou-se na Serra Botucatu uma fazenda jesuítica conhecida por Boa Vista, para os propósitos inacianos além do comércio com os passantes, aventureiros e bandeirantes, oferecendo-lhes os padres pouso e lugar de ajustes.
Em 1721 o bandeirante Bartholomeu Paes de Abreu, primo do jesuíta reitor padre tenente Estanislau de Campos Bicudo, requereu à Câmara Municipal de São Paulo direitos em explorar uma estrada, do centro da então capitania paulista às minas de Cuiabá, calcada no leito da antiga Peabiru e da trilha jesuítica/bandeirante, ou seja, "a partir da 'ultima povoaçam', da última vila e, também, a partir do morro do Hibiticatú" (Apud, Figueiroa, 2009: Revista 4).
Sorocaba, à época, era a derradeira vila desde 03/03/1661 - talvez meio século antes pelo citado documento 'BDPI: Cart325602', e a última povoação seria a sede da fazenda jesuítica Boa Vista, núcleo habitacional junto ao ribeirão de Santo Inácio, passagem rumo a Paranan-Itu aonde "um rudimentar porto para as canoas que iam e vinham" para dali se chegar, segundo Paes de Abreu, "ao rio Paraná onde instalou três roças de milho, feijão, legumes e deixou 250 bois em uma delas." (Apud Figueiroa, 2009: Rev. nº 5).
No aguardo da autorização, Paes de Abreu iniciou abertura de eito terrestre desde Paranan-Itu até defronte o despejo do Pardo sul-mato-grossense no rio Paraná (Giovannetti, Álbum Histórico do Município de Quatá, 1953: 1-2). Indeferido o pedido, Paes de Abreu, desgostoso e com problemas judiciais, abandonou o projeto.
Anos depois, em 1759, a expulsão dos jesuítas do território brasileiro, decretou o fim dos seus empreendimentos também em Botucatu, favorecendo a infestação indígena nas encostas e morrarias da serra, com prejuízos às iniciativas sesmariais.

- Da senda militar
Por Ato de 06 de janeiro de 1765, o rei português, D. José I, nomeou Governador da Capitania de São Paulo, o capitão-general D. Luís Antonio de Souza Botelho e Mourão, o 4º Morgado de Mateus, encarregado em restaurar a capitania paulista, abrir ou refazer estradas, fundar cidades e povoar os sertões, arranjando guarnecer os rios Tietê, Paranapanema, Iguatemi, Paraná e Prata, assim a expandir fronteiras ao oeste e levantar fortalezas para proteger o sul contra os espanhóis, ainda ressentidos pelas perdas territoriais com o fim do Tratado de Tordesilhas e não satisfeitos com o Tratado de Madri.
Ainda, o Morgado precisava entregar segura a outrora fazenda dos jesuítas aos arrematantes, conceder novas sesmarias e ratificar as concessões anteriores, com o livramento dos perigos indígenas, para isto contratado o bugreiro Francisco Manuel Fiúza.
A região experimentou o progresso com o fluxo de pessoas vindas principalmente de Sorocaba, Itu, Itapetininga e Porto Feliz, atraídas pela promessa de fundação de novos povoados e distribuições de terras nas cercanias e adiante da Serra Botucatu, como sentinelas avançadas e fortalezas, sendo Simão Barbosa Franco o encarregado das ações (Donato, 1985: 47-48).
Com essa visão militarista o Morgado determinou a construção da senda militar, em 1770/1771, a entrar pela Serra Botucatu até a barra do Pardo ou, mais adequado, ao Paranan-Itu, sob as ordens do capitão-mor de Sorocaba, José de Almeida Leite, para articulações com as bacias hidrográficas dos rios Tietê, Paranapanema, Paraná, Iguatemi e Prata, incentivando o povoamento do sertão e sua defesa das pensadas incursões espanholas.
O Almeida Leite prestou contas do compromisso ao Morgado, dando-o por realizado em 1772, sendo certa sua chegada à margem do Paranapanema.

- Das sesmarias entre o Pardo e Turvo
'Vale do Pardo' não foi apenas corredor de acesso entre a Serra Botucatu e o Rio Paranapanema. Documentos creditam-lhe grupos arranchados, desde que João Álvares de Araujo, por volta de 1730, rumou "para o sul, costeando a serra e posicionando-se além do Rio Pardo" (Donato, 1985: 44), à beira do caminho religioso/bandeirante e por onde haveria de passar, décadas depois, a senda militar.
João Pires de Almeida Taques, nos anos 1750, obteve sesmaria no Pardo "além do dito rio no novo caminho que se abriu para a Praça de Iguatemy, em tempos povoados por João Alvares de Araujo" (Repertório das Sesmarias, L. 19, fls. 121-v).
Aluisio de Almeida, confirma os aparentados João Pires, José de Almeida Leme, e Antonio Pires de Almeida Taques, sesmeiros no Pardo abaixo, e que Antonio [Pires] de Almeida Taques, em 1770, beneficiara-se de terras à margem esquerda do mesmo rio (Repertório das Sesmarias, L. 21, fls. 46).
Claudio de Madureira Calheiros, em 1771, requereu sesmaria, adiante daquela do sogro Vicente da Costa Taques Goes e Aranha, a acompanhar o Turvo, margem esquerda, à sua barra no Pardo (Repertório das Sesmarias, L. 21, fls. 70). Desta forma, as sesmarias à direita do Pardo "já estavam ocupadas por Vicente da Costa Taques (...), e por Francisco Paes de Mendonça e Jeronymo Paes de Proença, c. 1779" (Pupo e Ciaccia, 1985: 23), citado o caminho para o Iguatemy via Rio Grande [Paraná].
Acima destes situavam-se João Alvares, Antonio Machado e o Capitão [João] Pires [de Almeida Taques], e daí um vão até as terras sesmadas do citado Claudio Madureira Calheiros, do qual ciente Manoel Correa de Oliveira que, em 1780, pediu o chão entre aquelas sesmarias sobrando-lhe "as terras do espigão entre o Pardo e o Turvo, até a barra deste naquele." (Pupo e Ciaccia, 1985: 22-23). O Repertório das Sesmarias (L 21 fls. 100 e L 25 fls 96-v) ratifica os nomes daqueles relacionados sesmeiros à margem direita do Pardo, e confirmadas, também, as sesmarias concedidas do espigão à margem esquerda do Turvo, e, do outro lado deste, nenhuma sesmaria notada.
Mais para o 'Vale Paranapanema', pela antiga Peabiru, a Sesmaria das Antas, "em Lençóis, onde hoje está a povoação da Ilha Grande [Ipaussu] no município de Santa Cruz do Rio Pardo" (Silva Leme, 1905: 403, vol. VI), concedida a Luiz Pedroso de Barros, aos 09 de dezembro de 1725, repassada a José Monteiro de Barros, avô materno do sertanista tenente Urias Emygdio Nogueira de Barros (1790-1882), que a recebeu por herança, estimada extensão de três léguas de terras, a partir da barra do ribeirão da Antas no Paranapanema, em Ipaussu, até Chavantes, no distrito de Irapé - corruptela, por entendimento fonêmico, do tupi 'Tapi'irape - Caminho das Antas', com largura de uma légua, aumentada até o morro divisor onde as nascentes do ribeirão inicial dessas dimensões.
Das fazendas e sesmarias adiante de Botucatu atestam-nas a 'Carta Provincial do Governo de São Paulo, de 12 de fevereiro de 1771', obrigando os moradores na região do Pardo prestar ajuda, em tudo que deles necessitasse, o capitão Almeida Leme, na abertura da vereda militar, concluída em 1772.
Dos restos de sesmarias, no começo do século XX, residentes sorocabanos descendentes dos Pires colocavam a venda de 4.000 alqueires de terra em Santa Cruz do Rio Pardo (Aluisio de Almeida, 1959: 255), sem precisar exatamente o local.
Os sesmeiros, do século XVIII, pouco ou nada conheciam dos acidentes geográficos que melhor pudessem identificar suas terras; e os pioneiros vindos posteriormente, em meados dos anos 1800, melhor dimensionavam suas posses para registros, quase sempre mudando ou dando novos nomes lugares apossados, exatamente para não serem questionados.


- Da falência dos empreendimentos 
Martim Lopes Lobo de Saldanha assumiu o governo paulista como 'capitão-general', entre os anos 1775/1782, e optou pelo abandono de tudo quanto planejara ou realizara o Morgado, seu antecessor, em Botucatu e adiante da serra. Com o desamparo as sesmarias não progrediram, as fazendas fracassaram e os arranchados, isolados e à mercê da crescente e ameaçadora presença indígena, retiraram-se.
Os índios expulsos por Fiúza, em 1770, retornaram mais ou menos dez anos depois, com seus descendentes e acrescidos de outros grupos e restos tribais, para formar numerosa e preocupante população adversa ao progresso.