domingo, 20 de dezembro de 2009

- Capitão Tito Correa de Mello - o iniciativo

1. Texto introdutório
Capitão Tito Correa de Mello.
Até o ano de 2015 Tito Correa de Mello era unanimidade histórica, para memorialistas, pesquisadores e autores diversos, como o nome maior na conquista sertaneja, iniciada em 1850, com tudo de bom e ruim, do último rincão paulista inculto, entre os rios Tietê e Paranapanema, desde a descida da Serra Botucatu às barrancas do Paraná.
Também, a história dessa conquista seria menos conhecida não fossem os seus relatos, em 1889, trazendo à luz a iniciação e os principais fatos do sertão centro sudoeste e oeste paulista, dos primeiros tempos, o avanço dos desbravadores, as aberturas de caminhos e fundações dos povoados.
Fruto do próprio meio, Tito foi aquilo que se esperava de um líder, na sua época, implacável com os inimigos e adversários, e bom com os amigos e companheiros desde que estes lhe prestassem subserviência ou pudessem servi-lo nos interesses políticos, policiais e judiciais.
O capitão Tito surgiu em Botucatu na época de um vazio de poder e quando se precisava de um homem forte e dominante, contestado, mas que não temesse o exercício da força à últimas consequências.
A importância de Tito em Botucatu e, por extensão, todo o sertão de sua época, sempre será política e economicamente incontestável, assim como o seu histórico de vida privada/familiar, social e pública, será sempre carregado de mistérios, apaixonante e discutível sobre pontos de vistas entre o certo e o errado; homem amado e odiado, condenado e absolvido, temido por todos.
Tito foi um homem público, figura notável, portanto nome sujeito às críticas sem ofensas, e louvores que não lhe sejam desmesurados.
O presente trabalho, sem pretensões em mudar a história ou desmerecer lendas e tradições, apresenta interpretação particular, documentada e responsável, ante novos fatos resgatados sobre Tito Correa de Mello, alguns desconhecidos e outros sabidos, talvez nem tanto.

2. Quem foi Tito Correa de Mello?

Cercado de mistérios quanto sua ascendência e local de origem, o célebre Capitão Tito Correa de Mello teve seus segredos de nascimento enfim revelados, num trabalho conjunto do memorialista Joaquim dos Santos Neto, do historiador Paulo Pinheiro Machado Ciaccia e os autores SatoPrado, com apresentação de documento que atesta o Capitão nascido em São Paulo (CD A/A: 01/09/2011):
—"Aos quatorze de junho de mil oito centos e dezenove annos nesta Se o reverendissimo senhor dotor Chantre Antonio Joaquim baptizou e pos os Santos Oleos a Tito filho de pais incognitos exposto na casa do Capitam Furtunato Correa de Mello; foi padrinho o Senhor Doutor Arcebispo, Vigario Geral Manuel Joaquim Gonçalvez [abrev.] de Andrade, todos desta Se, de que fiz este assento, que assigno. O Cura Jose Jacinto da Silva" (Paróquia Nossa Senhora da Assunção - Sé, São Paulo, Batismos de 1819-1829: 5, https://familysearch.org/).
Ao lado do registro consta: 
—"Foi legitimado pelo matrimonio que contraiu dito Capitão Mello e Dona Anna Roza Alvares Machado, como Ella declarou e pediu que fizesse esta nota reconhecendo Tito seo filho. Pelo que assigna comigo. O Cura Almeida" (Op.cit. https://familysearch.org/).
Tal matrimônio ocorreu aos três de fevereiro de 1821, e somente aí a declaração de Anna Roza Alvares Machado reconhecendo Tito seu filho, não cumprindo SatoPrado discussões se biologicamente dela quando solteira, ou sentimental, por sabê-lo fruto de aventura extraconjugal do marido - quando ainda viva a primeira esposa, isto tudo sem excluir possibilidade da criança ser filho dela, Anna, com o próprio Fortunato. Apenas não seria descente para uma família, economicamente rica, criar menor exposto como filho sem lhe dar legitimação. 
Num aparte, do Capitão Fortunato Correa de Mello, tido pai de Tito, se tem a referência:
"(...) militar portuguez desertado deante dos francezes em Portugal, em 1810, para vir se reunir aos que antes já tinham vindo na companhia de D. João VI; era homem mal reputado na terra natal e em São Paulo tornou-se pae de dois filhos que muito se celebrizaram - Joaquim Correia de Mello, o illustre botanico que muito honrou á nossa provincia, e o famoso Capitão Tito Correia de Mello, o exaltado político e mandão de Aldeia, que tanto desgraçou o municipio de Botucatú nos ultimos annos do império" (Ignácio - Francisco, A Bernarda - Capítulo IV, publicado pela Revista Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,1905: 146).
O texto extraído não mostra conhecimento do autor quanto a condição nascitura de Tito, e nem faz alusão à filha de Fortunato, Maria Catharina de Mello, do segundo leito. 

3. Na vida de Tito: nem tudo verdade – nem tudo irreal
A história de Tito anterior a sua presença em Botucatu, em quase tudo é autobiografia ficcional, conforme se alcança da matéria 'Capitão Tito - notas biográficas', publicada pelo Correio de Botucatu, em 02 de fevereiro de 1907 (CD: A/A, cópia transcrita e cedida por Paulo Pinheiro Machado Ciaccia). Quase todos os estudiosos e autores usam dessa divulgação, como verdade, para os seus trabalhos.
Pelo que hoje se sabe de Tito, ou por aquilo que revelam documentos resgatados, são muitos os pontos conflitantes, citando, como exemplos, o ano de nascimento em outubro de 1824, quando, em verdade, teria ocorrido em 1819; que ele teria cursado medicina, mas não se formou; e na capital paulista foi empregado em diversas repartições públicas.
Sem dúvidas o Capitão Tito foi homem estudado, de palavras fáceis e boa escrita, servindo sempre para redigir atas e discursos apresentados. Nada se sabe de sua infância, pouca coisa de seu tempo de estudante, certo que educou-se em alguma boa escola na capital paulista.
Outros detalhes da vida de Tito são discutíveis ou deveriam ser melhor esclarecidos. 

4. Tito - um itinerante
A biografia conhecida do Capitão Tito cita-o morador em Itu, Araraquara - onde teve comércio, Tietê, Piracicaba, Rio Claro e Campinas, além das conhecidas e certas as presenças em São Paulo - capital, Itapetininga e Botucatu.
Algumas das passagens de Tito por lugares diversos são atestadas documentalmente, outras por citações pouco ou nada confiáveis, e mais aquelas vindas de adversários políticos e inimigos pessoais:

4.1. Em São Paulo - empregado público

Na capital paulista, onde nasceu e estudou, Tito foi nomeado, por Decreto Imperial de 12 de fevereiro de 1841, 'Oficial Papelista' da Administração do Correio Geral da Província de São Paulo (Correio Oficial, volume 1º nº 71, edição de 02 de abril de 1841: 1, CD: A/A).
Tito logo deixou o emprego público ou dele demitido, por causa grave, assim insinuado por José Pinto de Andrade Mello, notório desafeto do Capitão:
—"(...) o homem por demais conhecido, cujo nome em caracteres indeléveis, acha-se nos archivos da repartição do correio da capital, - o capitão Tito Correa de Mello." (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1873: 2, apontamento por José Pereira de Souza Paixão).

4.2. Em Campinas - passagens que não se provam
No início de 1842 Tito foi residir em Campinas, onde o seu irmão Joaquim Correia de Mello, para engajar-se militante no Partido Liberal, como colaborador na redação do periódico revolucionário 'O Paulista', ao lado de Francisco Álvares e Antoine Hercule Romuald Florence, o Hercule Florence, dono da tipografia.
Mas, não existiu qualquer periódico campineiro com tal denominação.
"Em maio de 1842, com a instalação da Revolução, por motivação política ele [Hercule Florence] desmonta sua tipografia e se muda com ela para Sorocaba, onde ao lado do Padre Diogo Antonio Feijó imprime o primeiro jornal do interior paulista 'O Paulista'-" (Scarpeline - Rosaelena, "O nascimento da imprensa em Campinas, Centro de Memória Unicamp,  http://www.centrodememoria.unicamp.br/sarao/revista20/sarao_ol_texto3.htm)", de apenas quatro edições, 27 e 31 de maio e a 8 e 16 de junho de 1842.
—O revolucionário 'O Paulista', de 1842, não deve ser confundido com o homônimo paulistano fundado em 22 de setembro de 1823, por Antônio Mariano de Azevedo Marques, igualmente de curta duração.
Hercule e Tito certamente se conheceram, suas mulheres eram aparentadas, filhas de tradicionais famílias do tronco Oliveira, de acordo com "Genealogia Paulistana, Título Oliveiras, Volume VIII, páginas 529 e 531, respectivamente".
Também o Joaquim Correa de Mello, irmão de Tito, tinha ligações com Hercule, desde anos antes, no pioneirismo da fotografia no Brasil.

4.3. 
Em Rio Claro - professor, secretário camarário e ... até quiseram castrá-lo
No ano de 1843 Tito estava em Rio Claro, como professor interino de primeiras letras, permanecendo no cargo por quase quatro anos antes de tornar-se, por curto período, Secretário da Câmara Municipal da localidade, de acordo com os estudos e documentos apresentados por José Roberto Sant'Ana (2002: 14-17). 
Ratifica a informação de Sant'Ana a publicação oficial do governo paulista para o exercício de 1846, que traz no rol de escolas e professores respectivos, a de Rio Claro cuja vaga ocupada, interinamente, por Tito Correa de Mello (Provincial Presidential Reports (1830-1930): São Paulo, 1846 - BN 981 Mapa SN em folhas 3).
Em Rio Claro, no seu último ano de estadia, Tito teria se envolvido em algum sério problema, não de todo esclarecido, que o obrigou a deixar o lugar:
—"Na cidade de S. João do Rio-Claro [Rio Claro], quando já estava seguro [agarrado] o feliz Tito de Mello, por alguns individuos que o queriam castrar, a providência, que tarda mas não falha, fez que nessa occasião apparecesse o finado alferes José da Silveira Franco, e salvasse a vibora das garras dos algozes e immediatamente mudou-se." (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1873: 2,  do mesmo José Pereira de Souza Paixão).

4.4. Em Itu - um ato de traição
Apenas revelação única, de conhecimento dos autores, diz da presença de Tito em Itu, também pelo hostil Souza Paixão: "Na cidade de Itú levou o nosso juiz de paz [Capitão Tito – Juiz de Paz de Botucatu em 1873/1874] a boa e bem empregada cossa de ‘exemplação' por causa de uma gravata vermelha de Judas [ato de traição]." - (Correio Paulistano, 17/10/1873: 2).
O 'avareense' Souza Paixão, figadal inimigo de Tito, sabia por onde este tinha andado e os seus feitos, jamais questionado ou inadmitido pelo capitão.

4.5. Em Itapetininga - um nome de importância pelo casamento
Em 1847 Tito encontrava-se em Itapetininga, estabelecido no ramo de comércio – sem documento comprobatório de tal, e lá casou com a parenta Anna Florisbella Gomes Machado, filha do Capitão José Gomes Pinheiro e de Anna Florisbella Machado. 
Teria permanecido na localidade por algum tempo, sem informar quanto, como comerciante (Correio de Botucatu, 02 de fevereiro de 1907 - op.cit. transcrição).

4.6. Tito se insinuava mineiro o que nunca foi
A citada biografia de Tito publicada no citado Correio de Botucatu, em 1905, cita-o natural de São Paulo, mas outras referências, dadas pelo próprio Tito, insinuam-no mineiro (Avaré, História e Geografia, 1939: 3:
"Em 1849 [provavelmente 1840 – erro gráfico que se manteve], saiu de Pouso Alegre, cidade do sul de Minas, o capitão Tito Correa de Melo, agricultor e rábula, que comprara umas terras de cultura em Botucatu", citação inclusive na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - EMB, IBGE, Volume XXVIII, Avaré / São Paulo, 1965: 99/100, transcrito do opúsculo Avaré (...) por Napoleão Moreira da Silva, assim como outros autores, omitindo a fonte. 
Tais relatos seriam do próprio Capitão Tito, em 1889, segundo o 'Avaré' à página 4; e o Capitão dizia mais: "O Major Vitoriano [de Souza Rocha], a que me prendiam laços de parentes por lado de minha mãe, em 1840 viera comigo de Pouso Alegre e ficara em Sorocaba negociando em tropas." (Avaré (...), op.cit. página 6).
Sobre o major Victoriano se sabe filho de Francisco Bueno da Rocha e Gertrudes Cardoza de Oliveira, natural de Bragança Paulista [antes Conceição do Jaguari], no ano de 1790, e por lá viveu algum tempo, antes de fixar residência em Pouso Alegre - MG, visto por lá nos anos de 1830 conforme depreendido de publicação pelo jornal 'Recompilador Mineiro' (1833: 4 - CD: A/A). 
—O estudioso Joaquim dos Santos Neto apresenta assentos eclesiais que atestam a presença do Major Victoriano em terras mineiras, Pouso Alegre e Arraial das Antas [Bueno Brandão], nos anos de 1840 (CD: A/A), inclusive documento de 06 de outubro de 1851 que confirma batizado do filho de escravos seus, em Arraial das Antas (Bueno Brandão, Batismos, Livro de Batismos 1840/1852: 125), o que não implica, necessariamente, a presença do Major Victoriano ainda em Minas Gerais.


5. Quando efetivamente o Capitão Tito chegou a Botucatu?

Nenhum historiador, memorialista ou pesquisador, consegue colocar, documentalmente, Tito em Botucatu entre os anos de 1847 a 1863; exceção aos autores SatoPrado, pelas exposições acima e as seguintes abaixo, que documentam por onde esteve o capitão, no período, até sua fixação em Botucatu. 

5.1. Os tempos em Itapetininga
Documentos eclesiais de 1851 e 1852 apontam o Capitão Tito residente em Itapetininga (Livro de Batismos, 1843/1851, imagem 143 - data de 31 de agosto de 1851; e de 1851/1857, imagem 26 - 30/08/1852; https://familysearch.org/).

No ano de 1852, o capitão Tito residia em Itapetinga, aos 19 de dezembro daquele ano, contado entre os instaladores da 'Loja Maçônica Firmeza', membro da direção provisória, como secretário, sendo ele antes integrante da 'Loja Amizade - São Paulo, Grau 3' (Carneiro Ribeiro, 2011: 131). 

O Decreto Imperial de 05 de agosto de 1857, nomeou Tito Correa de Mello 'Capitão/Secretário da Guarda Nacional de Itapetininga' (Correio Mercantil – RJ, ano XIV nº 214, edição de 06 de agosto de 1857: 1), local onde residia e, como oficial, recebia seus soldos.
No ano de 1858 Tito ainda era morador em Itapetininga, participava ativamente da vida social e cultural do lugar, e foi escolhido como 'Secretário da Diretoria do Teatro local' (Correio Paulistano, 03 de agosto de 1859: 2).
A seguir, existe ausência de informações sobre o paradeiro do Capitão entre os anos 1860 a 1863, todavia, o sucesso sertanejo e o progresso botucatuense como boca do sertão não teria passado desapercebido por ele, que tinha interesses de família na localidade.

No entanto, é sabido que a vila de Botucatu, no período, enfrentava vazio de mando político, com dificuldades da Câmara em atuar no município que assentava, na parte urbana, maior sobre terras doadas pela família Costa - Abreu e Luz, cujos informes remontam os idos de 1835 (Almeida Pinto, op.cit), sem documentação escriturada, e assim seus lotes apossados, com permissão do próprio doador e descendentes, pois de outra maneira não poderia ser, para construções de moradias e comércio.  

Prosseguinte a tal loteamento estavam as terras legalmente doadas pelo Capitão José Gomes Pinheiro, em 1843, ao patrimônio de Santa Ana sob administração da Igreja, daí as dificuldades de o poder público agir nos arruamentos, praças e manutenções das vias de transito, etc, ou seja, em fazer valia o Código de Posturas do Município. 
Outras terras seriam doadas para a formação urbana de Botucatu.

5.2. Chegada a Botucatu
Tito no ano de 1864 estava residindo, com a família, na região botucatuense. Sua mulher, Anna Florisbella Pinheiro Mello, falecera aos 05 de dezembro de 1864 em Avaré, (Assentamento: Livro de Óbitos, 1859/1881: 33, documento apresentado por Joaquim dos Santos Neto).
Aos 12 de junho de 1865 Tito, morador em Botucatu, ofereceu recepção ao Juiz de Direito, Dr. Antonio Augusto Pereira da Cunha, e ao Promotor Público, Dr. Francisco Martins da Silva, que se encontravam na localidade para abertura do Tribunal do Júri naquele Termo Judiciário, conforme registro numa carta particular [de autor desconhecido] publicada no jornal Correio Paulistano - ano XII nº 2733, de 08 de julho de 1865: 2. 
Uma crítica também publicada no mesmo diário, aparentemente dirigida ao Capitão Tito, indagava se um membro da Guarda Nacional podia exercer dois serviços na mesma, e se recebia dois soldos.
Tito, enviuvado, contraiu segunda núpcias com a também viúva, Constância Maria da Conceição Braga, em Sorocaba, aos 25 de julho de 1865 (Igreja Nossa Senhora da Ponte, Livro de Matrimônios, 1865/1869: 3), continuando a residir em Botucatu.
Chama atenção, que Dona Constância igualmente faleceu e foi sepultada em Avaré (Óbito, 15 de outubro de 1878, Livro 1859/1881: 116, apresentado por Joaquim dos Santos Neto). 
A residência de Tito em Botucatu, por ser ele oficial da Guarda Nacional, refletiu na Presidência da Província de São Paulo que, por Ato de 15 de maio de 1868, solicitou do Comando da Guarda Nacional de Itapetininga informar quando o capitão-secretário Tito requereu guia de transferência para outra localidade e qual data se apresentou ao Chefe da Guarda Nacional de sua nova residência ou região (Diário de S. Paulo, 20 de maio de 1868: 3).
Após burocracias de praxe Tito foi finalmente agregado à Guarda Nacional de Botucatu e Lençóis Paulista, conforme Decreto Imperial de 09 de fevereiro de 1870 (Diário de S. Paulo – Notícias da Corte, 23 de fevereiro de 1870: 3), como capitão-secretário, cuja patente apostilada pela Presidência da Província de São Paulo (Ato de 14 de maio de 1870) e encaminhada à Tesouraria Provincial para os devidos fins (Diário de S. Paulo – Atos da Presidência, 20 de maio de 1870: 2).
Desta maneira, dadas as localizações do Capitão Tito, por onde esteve e quando, inviabilizam-se as informações que ele teria se fixado em Botucatu, por volta de 1847, e em 1849 enviado carta ao 'compadre' José Theodoro de Souza, convocando-o reunir bando, deixar Minas Gerais e vir urgente ao sertão combater índios e possuir terras livres de ocupações primárias adiante da Serra.
Theodoro desde 1837 estava na província paulista, e, pelo menos desde 1842 vinculado à família Costa Abreu e/ou Costa Luz, em Botucatu, sendo certo que no mês de julho de 1849 morava em Botucatu, "freguezes desta freguesia" (Botucatu, Livro de Batismos, 1849/1856, 02/07/1849: 26) e alguns de seus irmãos e companheiros que se envolveriam na 'Guerra ao Índio' ou a 'conquista sertaneja'. 

Outrossim, devem ser consideradas as declarações de Tito: 
"Em 1862 [15 de maio], o Major Victoriano e seu vizinho e compadre Domiciano Sant’Anna vieram a Botucatu e me procuraram para leval-os á casa do tabelião Francisco Antonio de Castro. Ahi redigi a escriptura de doação que ambos faziam, na parte em que seus sitios dividiam, cortados por um riacho ou corrego, de um terreno de um quarto de legua (ou 27 hectares) para o patrimonio de Nossa Senhora das Dores." (Avaré ..., op.cit, página 6).

Sobre o assunto, Tito não assinou nenhum documento, nem mesmo como testemunha; todavia, reconhecidamente viria ter fortes vínculos com a localidade de Rio Novo - depois Avaré, onde falecidas e sepultadas suas esposas, primeiro e segundo matrimônios, e, pelo menos, um filho seu por lá morto e enterrado.

Isto significa que capitão Tito não foi o nome maior no avanço sertanejo de meado do século XIX, tempo que ele, comprovadamente, não se encontrava, ainda, residente em Botucatu.

A versão de ter sido responsável pelo sertanismo adiante de Botucatu, surgiu em 1889, por ele mesmo, quando já falecidos os principais nomes do desbravamento sertanejo, destacados José Theodoro de Souza e Victoriano de Souza Rocha, finados aos 24/07/1875 e 28/03/1880, respectivamente, e, assim, sem contestações para Tito avocar, para si, a responsabilidade da conquista, ou seja, que o sertão fora aberto às suas ordens.

Ávido por terras, absurdo Tito não ter se associado a José Theodoro de Souza, ou a algum outro primitivo nome sertanejo, e, reservado para si muitas fazendas para vendas ou reservas patrimoniais. Não fez isto. 


6. Casamentos e filhos

Nada se sabe da vida do capitão Tito em família, no convívio com os filhos, mas deles todos, crianças e adultos, sempre foi extremamente defensor, tanto dos legítimos quanto dos legitimados, tomando por inimigos aqueles que ousaram denuncia-los ou deles publicaram matérias em jornais, consideradas ofensivas ou caluniosas. 

Duas filhas suas são citadas, uma que seria legítima e a outra, natural, mas delas ainda não se sabe o suficiente para informações abalizadas. Talvez, da filha posta por legítima, o genealogista Silva Leme (Genealogia Paulistana, 1905) tenha cometido erro, instado incluí-la descendente apenas pelo sobrenome, mas ela não foi incluída no testamento do capitão nem no rol de herdeiros; nem ela, nem os filhos e genro que, porventura, tenham sobrevivido ao próprio Tito. 

Da filha natural refuta-se, até prova em contrário, afinal o reconhecimento implícito supostamente promovido pelo capitão, numa procuração possessória a ela, tem assinatura e reconhecimento cartorial quase um ano após a morte do capitão. 

 

6.1. Primeiro matrimônio - os filhos

O capitão Tito casou-se, em primeiro consórcio, com sua parente Anna Florisbella Gomes [Pinheiro] Machado, aos trinta e um de maio de mil oitocentos e quarenta e sete, na matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, em Itapetininga, sendo ele natural da cidade de São Paulo, declarado filho de Fortunato Correa de Mello e de Anna Rosa Machado, ela nascida em Sorocaba, filha do capitão José Pinheiro Machado e de dona Anna Florisbella Pinheiro Machado (Matrimônios, Livro 1834/1850: 111).

Anna nasceu aos 06 e batizada em 23 de julho de 1823, em Sorocaba (Batismos, 1821/1824: 83). Com adoção do sobrenome do marido tornou-se conhecida como Anna Florisbella Pinheiro de Mello.

O casal teve dois filhos conhecidos, Gustavo Pinheiro de Mello e Amador Bueno Correa de Mello. 

Dona Anna Florisbella, conforme vista, faleceu em Avaré aos 05 de dezembro de 1864 (Livro de Óbitos, 1859/1881: 33).

 

6.2. Segunda núpcias - um descendente

Com o falecimento da esposa, o capitão Tito casou-se em Sorocaba - Igreja Matriz Nossa Senhora da Ponte, aos 25 de julho de 1865, com Constancia Maria da Conceição Braga, viúva de João Henrique Leite Carvalho (Livro de Matrimônios, 1865/1869: 3).  

O casal teve o filho, Benedicto Correa de Mello, nascido aos 14 e batizado aos 24 de janeiro de 1869, em Sorocaba (Livro de Batismos 1868/1871: 28).

Dona Constância faleceu em Avaré aos 15 de outubro de 1878 (Livro de Óbitos, 1859/1881: 116).

 

6.3. Os filhos extraconjugais

O capitão Tito Correa de Mello, após a segunda viuvez, teve os seguintes filhos reconhecidos e legitimados.

 

6.4. Os havidos com a alforriada Benedicta:

-Fortunato Correa de Mello, batizado a 02/05/1880, (Botucatu - Livro 1877/1888: 35);

-João Baptista Correa de Mello, nascido em 15/03 e batizado aos 17/04/1881 (Botucatu - Livro 1880/1881: 23);

-Brazilisia Correa de Mello, nascida aos 20/02 e batizada em 12/05/1884 (Botucatu - Livro 1883/1885: 78);

-Francisco Correa de Mello, nascido aos 10/08 e batizado em 10/10/1885 (Botucatu - Livro 1885/1888: 39).

Dos filhos citados consta escritura de perfilhação assinada pelo capitão Tito Correa de Mello, registrada no 1º Tabelionato de Notas da Comarca de Botucatu, aos 05 de fevereiro de 1886 (Tarcísio Correa de Mello, cópia gentilmente cedida).

Com Benedicta, Tito teve, ainda, outros dois filhos:

-Honório, nascido aos 20/08 e batizado aos 20/10/1883 (Botucatu - Livro de Batismos 1877/1888: 54), provavelmente falecido antes do pai, por não constar do testamento e rol de herdeiros;

-Benedito, nascido aos 22 e falecido com idade de um dia, em 23/09/1886 (Avaré, Livro de Óbitos 1881/1890: 32).

Benedicta, quando não simplesmente o nome, usava os sobrenomes: Braga de Mello, Amalia Bastos e Ernestina Bastos.

 

6.5. Os nascidos de Valentina

-Isabel Correa de Mello;

-Benigno [Benino ou Beninho] Correa de Mello.

Os filhos citados constam da escritura de perfilhação assinada pelo capitão Tito Correa de Mello, registrada no 2º Tabelionato de Notas da Comarca de Botucatu, em 1904 (Tarcísio Correa de Mello, cópia cedida).

Ainda de Tito e Valentina, o nascimento da filha Carmelina, aos 05 e batizada em 13/09/1886 (Botucatu - Livro 1895/1897: 123), certamente falecida antes do pai, por não constar do testamento e rol de herdeiros.

Valentina apresenta-se com os sobrenomes Braga de Mello e Barboza de Mello.

 

6.6. Das possíveis filhas não comprovadas

-Henriquetta de Mello, citada na Genealogia Paulistana (Luiz Gonzaga da Silva Leme, Volume 6: 422), como filha do capitão Tito Correa de Mello, sem identificação da mãe, foi casada com Izaac de Sousa Nogueira, e tiveram a filha Zelinda casada com João de Souza Rocha, pais de Hermelindo de Souza Rocha (Fonte: Paulo Pinheiro Machado Ciaccia, levantamentos e anotações, CD: A/A). -Ignez de Mello, consta numa procuração lavrada e registrada no 1º Tabelionato de Botucatu (Livro 32 fls. 16), datada de 24 de março de 1908, pressupostamente assinado pelo capitão Tito Correa de Mello, no entanto este já falecido no ano anterior, sendo o documento utilizado a favor de Ignez, como herdeira, numa ação possessória em Avaré, da fazenda Jacutinga (...). (Paulo Pinheiro Machado Ciaccia, resgate histórico-documental, cópia cedida, CD:A/A).

-A Ignez [de Mello] aos 27 de março de 1926 consta viúva, idade de 30 anos, em segundo matrimônio na localidade de Piraju, identificada como filha legítima do capitão Tito Correa de Mello e Geracina Amelia dos Prazeres (Matrimonio, Livro 1916/1927: 182 - levantamento por Joaquim dos Santos Neto).

 

7. Acontecimentos marcantes dos irmão e irmã de Tito

Legítimo ou legitimado como filho, Tito teve um irmão e uma irmã, notoriamente conhecidos na província paulista.

 

7.1. Do Joaquim Correa de Mello

Joaquim Corrêa de Mello, nascido a 10 de abril de 1816, na capital de São Paulo, filho de Fortunato Correa de Mello e Anna Francisca Barbosa, faleceu em Campinas em 20/12/1877.

Foi casado com Candida Cherubina Gomide, aos 23 de abril de 1838 em Campinas (Livro 1826/1841: 92), sendo ela nascida aos 14 de abril de 1815, em Sorocaba, filha de Candido Gonçalves Gomide e Zepherina Maria de Oliveira, 1838, e tiveram os seguintes filhos levantados pelos autores:

-Candida, batizada em 20/03/1839, idade de um mês e quatro dias, em Campinas, Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Livro referência 1830/1839: 195);

-Joaquim., batizado aos 11/03/1842, idade de trinta e três dias, em Campinas, Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Livro: 1838/1850: 62);

-Anna, batizada aos 14/01/1849, idade de nove meses, em Campinas, Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Livro 1838/1850: 168);

-João, nascido aos 09/02 e batizado aos 22/10/1850, em Campinas, Matriz Nossa Senhora da Conceição (livro 1838/1850: 205).

De inteligência brilhante, Joaquim foi convidado pelo cirurgião-mor Francisco Álvares Machado de Vasconcelos para trabalhar em seu estabelecimento farmacêutico, em Campinas, antes de estudar Farmácia no Rio de Janeiro, curso iniciado em 1834.

Formado em farmácia e química, regressou a Campinas para trabalhar em farmácia de manipulação, desenvolvendo notável trabalho de pesquisas da flora brasileira - quase que exclusividades de curandeiros e pajés, anotando e resultados de quadros patológicos e os efeitos medicamentosos nos processos de curas, voltadas gratuitamente às crianças e às famílias pobres durante vinte anos.

Para evitar o exercício ilegal da medicina, associou-se ao médico dinamarquês Theodoro J. Henrik Langgaard (1813/1883), formando a medicina popular brasileira - ciências naturais e médicas, com diversos trabalhos.

Tornou-se brilhante botânico, cercado de ilustres e inteligentes amigos, como Langgard, Hercule Florence, Ricardo Connor e Gumbleton Daunt, de diferentes áreas.

A importância e a fama de Joaquim Correa de Mello dispensam qualquer comentário, como botânico e bioquímico, nome por demais conhecido e respeitado ainda em vida, inclusive de reconhecimento internacional, laureado em diversos países: Rússia, França e Inglaterra entre outros, lembrado por Willian Pen, que o Joaquim Correa Mello somente foi lembrado no Brasil quando dele se ouvia falar no exterior (Gazeta de Campinas, 29/01/1874: 2).

Os autores mencionam apenas um trabalho extra de Correa Mello, suas experiências químicas com Hercule Florence no pioneirismo da fotografia no Brasil, de modo independente do inventor francês Louis Jacques Mandé Daguerre.

Hercule Florence não registrou patente de sua invenção e dele foi o uso primeiro da palavra fotografia.

Joaquim Correa de Mello, pela sua importância, porém desapegado da materialidade, morreu pobre.

 

7.2. Maria Catharina de Mello

Maria nasceu e foi batizada em São Paulo, a 03 de novembro de 1829, filha do

Capitão Fortunato e sua mulher Anna Rosa Alvares de Oliveira [ou Machado] (São Paulo - Nossa Senhora da Assunção - Sé, Livro 1829/1832: 9, ). 

Senhora de grande fortuna, teve casamento dotal com estrangeiro morando no Brasil, e não teve filhos. 

Não se tem um estudo completo sobre Maria Catharina de [Correa] Mello, com sobrenome estendido Peçanha - Maria Catharina de Mello Peçanha, com carta de testamento a favor do marido. 

Maria Catharina soube da morte do irmão Joaquim Correa de Mello, que deixou a família em penúria, e então resolveu destinar parte de seus bens aos sobrinhos, através de novo testamento. O marido, contrário ao gesto, com auxílio de profissionais de saúde conseguiu interna-la num manicômio e, assim, evitar divisão dos bens.

Pessoas amigas souberam dos acontecimentos, o caso foi publicado em jornais do Brasil, a exemplos o 'Jornal da Tarde, São Paulo, edição de 27 de abril de 1881: 2; e Jornal do Recife, de 12 de maio de 1881: 2'. 

Os nomes dos implicados começaram a ser divulgados, e, então revelado que a vítima era irmã do capitão Tito Correa de Mello, com influência bastante junto às autoridades, para entrar em ação o presidente da província de São Paulo e o seu chefe de polícia, e dona Maria Catharina pode deixar o hospital de saúde mental - hospício, como se dizia na época. 

 

8. Capitão Tito - mandatário, poderoso e contestado 

Tito fixou efetiva residência em Botucatu em algum tempo entre os anos de 1860 e 1863, onde tinha bens de família deixados pelo sogro, o capitão José Gomes Pinheiro, morto em 1848, embora partes já vendidas em 1845 (Puppo: 2002: 36-37, referência às publicações de João Nogueira Jaguaribe, 'A Freguesia', em capítulos publicados pelo jornal 'O Correio de Botucatu', entre 1915 e 1918).

O capitão assumiu propriedades herdadas e adquiriu outras em Botucatu e região, para se tornar grande fazendeiro e importante nome regional. 

No ano de 1872 Tito conquistou o cargo eletivo de juiz de paz de Botucatu, o mais votado [09 de setembro de 1872], questionada a lisura do pleito inclusive para vereadores, pelo opositor político José Carlos de Souza Cananeia (Correio Paulistano, 16/03/1873:  2). Mostrou-se cruel com os adversários, reunindo multidão para festejos e arruaças defronte as residências e estabelecimentos de oposicionistas.

Em 1873 o capitão Tito foi nomeado pelo Governo Provincial membro da 'Comissão Censitária para Botucatu' (Diário de S. Paulo, 15 de novembro de 1873: 1); na mesma comissão o tenente-coronel Cananeia, mas no Tito a encarnação do poder e mando.

Não lhe faltaram opositores, com denúncias, acusações e demandas, divulgadas pela grande imprensa paulistana. Iniciava-se a 'era do medo' em Botucatu, e publicar contra Tito seria espécie de garantia de vida. 

Ainda em 1873, o 'Correio Paulistano' (17/10/1873: 2) publicou grave denúncia contra Tito, por ameaça a um cidadão que tinha questões de terras com sua nora, Gabriella Correa de Mello - mulher de Amador, e ao cidadão, que teve seu filho estranhamente recrutado para o serviço militar, disse o delegado de polícia que se a pendenga findasse, o rapaz seria desconvocado, caso contrário isto seria mantido e poderia terminar com uma bala na cabeça do demandador José Pereira de Souza Paixão. 

Mas, Souza Paixão não era adversário comum; tinha lastro: suplente de delegado de polícia em Avaré (O Ypiranga, 23/10/1868: 2); eleitor respeitável em Botucatu (Correio Paulistano, 21/02/1869: 2); tenente-cirurgião do 37ª Batalhão de Infantaria do Comando da Guarda Nacional de Botucatu (Correio Paulistano, 02/07/1871: 1), privado do posto por não haver requerido patente no prazo legal - voltaria posteriormente com situação regularizada (Diário de S. Paulo, 15/01/1870: 1); juiz municipal suplente em Avaré (Correio Paulistano, 16/05/1879: 1), impondo derrota aos indicados por Tito em pleno apogeu deste como político regional.

Também o Souza Paixão era rico; de uma só assentada colocou 6 mil alqueires de terras a vendas em Botucatu, próprias para o cultivo do café e 'livres de geadas', justificando: "Vende-se por preço cômodo, visto o dono não precisar de tantas terras" (Correio Paulistano, 18/01/1872: 3), anúncio visto como provocação ao adversário Tito.

Mais ameaçador, ainda, Souza Paixão, parecia saber das estripulias do capitão Tito e consequências que lhe foram adversas, 'em São Paulo no serviço público, a quase castração em Rio Claro, e a surra levada em Itu'. Verdades ou mentiras, cessados os insultos públicos quando o capitão arrefeceu ânimos. 

Mas, as garras de Tito estendiam-se e seu posicionamento político, apontando candidatos, influenciava eleições, ou tentava, nos municípios denominados 'sul paulista' composto dos territórios de Rio Novo [Avaré], Tijuco Preto [Piraju], Itapetininga, Sarapuhy [Sarapuí] e Guarey [Guareí], e, em direção oposta, chegava a Lençóis Paulista. 

Conta-se, que em Rio Novo [Avaré], na véspera de acirrada eleição para o juizado de paz, a acontecer em 1º de março de 1874, o capitão Tito, sentindo a derrota, ardilosamente mudou o local de votação somente para o seu grupo, do templo da igreja para uma residência particular, sob a argumentação que o local oficialmente designado estaria tomado de gente belicosa a mando dos adversários. Daí, em Avaré, a duplicata de eleições com os liberais e conservadores, cada qual elegendo seus juízes de paz (Correio Paulistano, 29/03/1874: 1).

Em verdade, no cumprimento de ordens superiores de segurança pública, determinou-se uma guarda para impedir entrada de gente armada na Igreja. Tito, embora força política regional, teve rejeitado seus argumentos. 

A derrota de Tito levou-o ao exaspero e reações brutais, perdera para o rival José Pereira Souza Paixão.

Tito, desde o ano anterior, fazia pesadas críticas e denúncias contra seus adversários, citando nomes, juntando testemunhos e fez publicar no jornal Correio Paulistano (17/09/1873: 2), um ofício que ele, Tito, na condição de juiz de paz em Botucatu encaminhara ao presidente da província de São Paulo solicitando providências na região rio-novense.

O problema de Tito, pelo que se conclui do seu informe, é o adversário e contestador, Souza Paixão, que conseguiu a nomeação de José Pinto Andrade Mello, o 'Zeca Pinto', como subdelegado da polícia de Rio Novo. Segundo o Capitão Tito, o 'Zeca Pinto', que não prendia assassinos, mas promovia terror aos liberais e cidadãos de bem, juntado com o destacamento policial da capital enviado pelo governo provincial.

José Pinto Andrade Mello respondeu ao capitão Tito:

—"É sabido que este municipio é o seio dos criminosos do Imperio, que nas fazendas dos chefes liberaes as freguesias do Rio Novo, S. Domingos e da villa de Botucatú encontram asylo e agasalho, sendo o seu desfaçamento e ousadia tal, que publicamente na companhia de seus patronos passeiam tranquillamente, afrontando a moralidade. (...). Felizmente s.exc. o sr. presidente, atendendo aos nossos reclamos - fez vir para esta comarca um pequeno destacamento, medida esta de tão grande alcance e reconhecida por todos aquelles á quem ainda resta uma scentelha de moralidade e brio; mas medida aterradora e vexatoria para aquelles que vivem em comunhão com os estigmatizados da sociedade - os assassinos de profissão. (...). Eis a grita de Tito Correa de Mello (...)." (Correio Paulistano, edição de 17/09/1873: 2).

E outra vez o José Pereira de Souza Paixão se colocou contra atitudes de Tito, que conseguiu o afastamento do Juiz Municipal e de Órfãos do Termo [Judicial] Reunido Botucatu/Lençóis Paulista, num abaixo assinado ao Imperador pedindo reconsideração do ato que afastou o Juiz Dr. Joaquim Antonio do Amaral Gurgel (Diário de S. Paulo, 18/04/1874: 2-3).

O Juiz retornou ao cargo e assumiu vaga em Lençóis Paulista, em 1876, e do Termo de Santa Cruz do Rio Pardo na então comarca lençoense.

 

9. A 'saga' do café amarelo 

Nem só de problemas viviam Tito e sua Botucatu, nos anos de 1870. O 'Auxiliador da Industria Nacional', periódico da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, exercício de 1874, à página 164, diz do café amarelo cujas sementes enviadas por Tito Correa de Mello:

—"(...), á remetti o café amarello. Ahi chegarão excellentes sementes, poucas, é verdade, porque este ano não foi possível enviar mais; a procura foi excessiva; para a segunda colheita remetterei mais e assim todos os anos, até que a província do Rio tenha essa excellente e incontestavelmente superior especie de caffeiro, superior a todas conhecidas, mesmo ao decantado móka."

E junto toda a instrução das exigências para o plantio e boa safra:

—"Aqui, segundo observações de entendedores, dos melhores agricultores praticos no officio, dizem que não conhecem cousa igual tanto no peso como no aroma e gosto, tendo muito maior quantidade de força saccharina, e, portanto mais vantagem para aquelles que expolpam, não perdem o assucar contido na capsula, fazem aguardente, e o que é certo é que algumas pessoas já usam o café amarello torrado com castanha, que dizer, com a primeira casca; assim môem-no fazem a infusão e bebem-no, dizendo que é tão superior como as melhores especies de que apenas se usa bem beneficiado."

 

10. Alguns dos crimes atribuídos a capitão e das repercussões 

Tito era um homem visado. Pelos adversários e inimigos, um homem mau, responsável por tudo de ruim na comarca de Botucatu.

 

10.1. O assassinato do ex-juiz José Gonçalves da Rocha

O bacharel José Gonçalves da Rocha foi classificado para assumir o Juizado Municipal de Botucatu (Diário de S. Paulo, 08/02/1877: 1).

Apesar do curto período em Botucatu, Rocha instalou a 16 de março de 1877 duas salas de aulas em próprios da Loja Maçônica 'Guia do Futuro', período noturno, para alfabetização - curso gratuito - período noturno, conforme publicação no periódico 'O Municipio', de 29 de junho do mesmo ano (Correio Paulistano, 03/07/1877: 2).

Atritado, dizem, com o capitão Tito Corrêa de Mello, não se sustentou no cargo de magistrado, deixou a função e montou escritório de advocacia em Botucatu (Correio Paulistano, 02/07/1877: 3), mesmo jurado de morte.

Aos 10 de novembro de 1877, por volta das 11,00 horas, em seu escritório, dr. Rocha fumava próximo a uma janela envidraçada, quando recebeu um tiro (Diario de S. Paulo, 18/11/1877: 1), consequência do qual veio a óbito alguns dias depois. 

Duas testemunhas apontaram como suspeito o Antonio Leme de Siqueira, vulgo Antonio Pedro, e uma delas disse ter emprestado arma de fogo ao acusado, que a solicitara para viagem. Antonio Pedro foi preso e se pensou crime a mando do capitão Tito, que se desentendera com Rocha. 

O acusado tinha problemas com a justiça e enfrentara tribunal de júri em Pirassununga. Mas, Tito lhe dava proteção plena, e, quase dois anos depois, o chefe de polícia Joaquim Toledo Piza e Almeida, da província de São Paulo atestaria:

—"A este réu tem sido dispensada proteção, que se póde qualificar de escandalosa, e tive occasião de confirmar agora, que no ano ultimo passeava elle nas ruas da cidade do Botucatú, sendo até visto uma vez na ri, assistindo a corridas de cavallos, em presença da autoridade policial agora demitida." (Correio Paulistano, 03/06/1879: 1). 

Piza e Almeida até quis transferir Antonio Pedro de Botucatu para Sorocaba e lá ser julgado, porém não conseguiu pelo alegado estado de precária saúde do réu.

Consta que Amador Bueno Pinheiro ou Correa de Mello, quando delegado de polícia de Botucatu, arbitrariamente ou não, prendeu o fazendeiro 'Lucio Ferreira Gordo como mandante do crime' (Almeida Pinto, 1994: 165-166); também isto não prosperou.

 

10.2. Expulsões do juiz de direito e do promotor público da comarca

A demissão de Amador Bueno Correa de Mello do cargo de 1º suplente de delegado do município de Botucatu, causou indignação do seu pai, Tito Correa de Mello.

As causas do Ato do Presidente da Província teriam sido por denúncias e constatações de abusos do poder e autoridade, por parte de Amador Bueno, perseguindo adversários e protegendo apaniguados do pai, inclusive deixando de prender um parente por cometimento de crime de morte. 

Não se sabe quem o autor das denúncias contra o Amador, mas o juiz de direito, Luiz Ernesto Xavier, instado a manifestar-se sobre o assunto, desabonou a continuidade de Amador no cargo, posição aceita pelo presidente da província na fundamentação do ato de demissão.

O promotor público, Antonio Marcelino de Carvalho, dito coparticipe nos subsídios da exoneração, trouxe de São Paulo a informação da decisão tomada, pelo governo.

No dia 03 de janeiro de 1879, por volta das nove horas, o juiz de direito e o promotor público de Botucatu, por intermédio do dr. Joaquim Fiuza e do capitão João Pereira da Silva - 3º suplente do juízo municipal, receberam ordem expressa do capitão Tito Correa de Mello, para se retirarem da comarca até às 17,00 horas daquele mesmo dia.

Ambos afirmariam ao chefe de polícia, dr. Toledo Piza que não foram determinados por Tito para a ordem, que apenas ouvindo e vendo o alvoroço e sendo certa a reação do capitão, como amigos aconselharam aquelas autoridades retirarem-se da localidade (Correio Paulistano, 03/06/1879: 1).

Tito, ao lado dos filhos Gustavo e Amador, aguardou respostas dos intimados, assegurado por um bando armado sob as ordens do cabecilha Joaquim Ferreira da Silva Gordo, tido sobrinho do Capitão.

Já passado os fatos, a Presidência da Província de São Paulo manifestou-se:

—"SEGURANÇA PUBLICA E INDIVIDUAL - Sendo o primeiro supplente do Delegado de Botucatu, Amador Bueno Pinheiro de Mello, genro e sobrinho do 2º supllente Juiz Municipal d’aquelle Termo, Major Matheos Gomes Pinheiro Machado, por Acto de 23 de Dezembro, demitti o referido 1º supplente do Delegado, visto não poder servir conjunctamente no mesmo Termo com o mencionado supplente do Juiz Municipal, como declara o Aviso n. 420 de 19 de Julho de 1876. Ao chegar ali a noticia desta demissão, tive communicação do Dr. Juiz de Direito da Comarca de que a ordem publica fora perturbada, levantando-se um grupo de individuos, que exigião a sahida do Dr. Juiz de Direito e do Dr. Promotor publico para fora da Comarca os quaes se refugiarão meia legua fora da Cidade.Esta communicação foi-me entregue no dia 8 do corrente á tarde.No dia 9 fiz seguir para Botucatú o Dr. Chefe de Policia, recommendando-lhe que alli se conservasse emquanto sua presença fosse necessaria; e bem assim que procedesse a investigação dos factos por meio de inquerito, e que, usando das attribuições, que lhe confere a lei, formasse a culpa, contra quem de direito. Ás ordens d'esta autoridade fiz também seguir uma força de linha de 25 praças, commandadas pelo Tenente Joaquim Antonio Pinheiro Ferreira. Voltando recentemente de Botucatú o Dr. Chefe de Policia, poz-me ao facto das occurrencia alli havidas, e, ante o inquerito realisado, do qual se verificão alguns actos perturbadores da tranquilidade publica, vou mandar proceder de conformidade com a lei." - (RG, São Paulo, 1023 BMIP, 1879: 11-12).

—O processo teve início na administração paulista de João Batista Pereira e entrou na seguinte, e inclusive Tito chegou a ser detido, ao atravessar o rio Tietê, por ordem do chefe de polícia quando ainda em Botucatu (Correio Paulistano, 25/01/1879: 2, informe do periódico 'Progresso de Tatuhy' - Captura importante). 

O chefe de polícia, dr. Joaquim de Toledo Piza e Almeida, concluiu que não fora a demissão de Amador a causa primária do atrito entre a família Correa Mello e as autoridades - dr. Luiz Ernesto Xavier e Antonio Marcelino de Carvalho, e sim a indisposição de juiz e do promotor em adiar, pela quarta vez, o julgamento, do réu Antonio Leme de Siqueira - o Antonio Pedro, protegido por Tito, acusado de assassinar o dr. José Gonçalves da Rocha em final de 1877. Não prosperou.

A justiça foi humilhada, a polícia desmoralizada, e o presidente da província enfraquecido e incapaz de barrar a prepotência de Tito e o episódio ganhou manchetes em todo o Brasil.

Tito, os filhos e outros acusados do ato de vilania, nem foram pronunciados pelo juiz municipal em exercício, Jordão Pompeo de Almeida Campos, sem qualquer atenção às ordens do juiz de direito Estevam de Siqueira quando na comarca, acolhendo denúncia do promotor público interno, dr. Lima e Silva, quando também em exercício na comarca (Jornal da Tarde, 01/02/1880: 2).

O acontecimento, explorado no plenário da Assembleia Provincial de São Paulo, permitiu Tito, quando deputado provincial, defender-se esclarecendo que ao juiz Xavier foi apenas recomendado, por razões de segurança, retirar-se da cidade, ele e o promotor Antonio Marcelino de Carvalho, resposta que se tornou parte do anedotário histórico-político de São Paulo.

 

10.3. Atos de violência em Rio Novo [Avaré]

Não satisfeito com os acontecimentos que culminaram com as expulsões do juiz de direito e do promotor público da comarca de Botucatu, Amador Bueno Pinheiro de Mello resolveu, a 10 de janeiro de 1879, 'literalmente' invadir Rio Novo, com as tropas do pai, composta por homens fortemente armados, escravos, caboclos e contratados, sob o comando de Joaquim Ferreira da Silva Gordo.

Nada foi feito à revelia de Tito. O alvo era o 2º suplente de juiz municipal da localidade, Domingos Antonio Vellozo, que teve seu domicílio violado, não conseguiu fugir e foi publicamente espancado, pesando sobre ele a suspeição que teria sido o denunciante no processo que culminou com a demissão do Amador do cargo de delegado de polícia. Interferentes também foram açoitados, a sessão camarária suspensa, e alguns testemunhos foram juntados atestando as barbáries cometidas pelo bando e o espancamento do juiz municipal (Correio Paulistano, 16/05/1879: 1).

 

10.4. Notícias que chegaram ao Senado Imperial 

Os mandos e desmandos do capitão Tito e família ganharam espaços e discussões no senado imperial (Correio Paulistano, 11/05/1879: 1).

—"(...) o que é verdade, e vem a ser o ponto principal, é que houve um facto gravissimo, cujo autor dizem ser o Sr. Tito Corrêa de Mello, chefe liberal em Botucatú, que, não contento com as violencias feitas nessa localidade, mandou a sua gente ao Rio Novo invadir a casa de 2º supplente do juiz municipal e dar-lhe bordoadas. Eis aqui o facto nú e crú, facto sem duvida gravissimo, que trago ao conhecimento do senado e do governo." (Annaes do Senado Imperial, 1879 - Livro 5: 28 - transcrição discurso de Floriano Godoy).

Questionado pelo ministro da fazenda, Affonso Celso, presente na sessão, o senador Godoy não assumiu responsabilidade pelas informações, mas disparou:

—"O Sr. Tito Corrêa de Mello, indigitado pela opinião publica como autor desses factos, é justamente aquelle que dizem, e para isso chamo a attenção do governo, vai ser nomeado coronel commandante superior da guarda nacional. Peço ao nobre ministro da fazenda e a seus dignos collegas toda a attenção a este respeito. Em occasião opportuna V. Ex. se dignará de dar a esse respeito as necessárias informações, com as quaes ficarei satisfeito, porque deposito toda a confiança na isenção de seu espirito. O requerimento, que vou mandar á mesa, é este (lê): «Requeiro que, por intermedio do ministerio da justiça, se peçam informações sobre o processo que devia ser instaurado contra os perturbadores da ordem publica em Botucatú e Rio Novo, da provincia de S. Paulo, em virtude do inquerito feito pelo chefe de policia, no mez de Janeiro do corrente anno.» E' o que tinha a dizer." (Annaes do Senado Imperial, 1879, op.cit.).

—Os intentos do Senador Godoy se perderam pelos descaminhos da justiça brasileira da época, e tudo deu em nada, apenas Tito não conseguiu sua ambicionada nomeação para o coronelato da Guarda Nacional.

 

11. O Tito político

Em 1879 Tito era nome consagrado, líder político de expressão nos municípios do sul paulista, também nos de Lençóis Paulista e São Pedro do Turvo, além de Botucatu. Apoiavam-no, como distinto correligionário, "devendo muito principalmente ao prestigio e á inabalavel firmesa do senhor capitão Tito (...)", por isso indicado à vaga de deputado provincial paulista pelo Partido Liberal (A Constituinte, 01/11/1879: 3).

Com os apoios recebidos enfrentou nomes tradicionais da política paulista, e invadiu redutos eleitorais em Piracicaba, Itapetininga, Santa Cruz do Rio Pardo e outros colégios à caça de votos, e elegeu-se para o mandato 1880/1881, mas o seu indicado perdeu o juizado de paz em Avaré para o opositor José Pereira de Souza Paixão.

 

11.1. Deputado provincial

Temido, teve acusadores na Assembleia onde apontados os seus crimes eleitorais, os espancamentos, as ameaças, tocaias e mortes, protagonizando duas legislaturas 1880/1881 (23ª) e 1884/1885 (25ª) com constantes debates pessoais contra colegas que não lhe poupavam.

A história política não esconde o caráter duvidoso de Tito, nem o seu poder truculento, menos ainda sua impunidade, tanto que jamais o Ministério da Justiça conseguiu processá-lo ou condená-lo, pois que o capitão fazia correr para fora de Botucatu até os juízes de direito, segundo Almeida Pinto, Donato e outros historiadores, sendo os juízes suplentes, os de paz e municipais, seus parentes, apaniguados e subservientes, numa época que o primeiro suplente era o seu cunhado, o segundo o próprio filho, e assim uma constante.

Mesmo com cargo na Assembleia Legislativa Provincial, Tito não cessou seus tumultos nem admitiu adversários na sua área de influência. Avançou e ampliou suas forças e até se indispôs com lideranças além província.

Dia 15 de dezembro de 1881 o dr. Romeiro [busca-se o nome completo e profissão], morador em Botucatu, sofreu atentado não fatal, e o assassino homiziou-se na residência de um filho natural do deputado Tito Correa de Mello (Correio Paulistano, edição de 29/12/1881: 3; Jornal do Recife, 18/01/1882: 2), e não se chegou a nenhuma conclusão e sem qualquer envolvimento aparente do capitão.

A oposição ao capitão cresceu no seu segundo mandato legislativo, 1884/1885, quando Tito teve mais opositores à altura, citado o Manuel de Moraes e Barros, o Moraes Barros, nascido em Itu - SP, deputado por Piracicaba, com forte retaguarda do Imperador Pedro II, quanto do irmão de Prudente José de Moraes Barros, o Prudente de Moraes, que viria ser o primeiro presidente civil do Brasil.

Os crimes cometidos a mando de Tito eram constantemente lembrados e divulgados à exaustão, como se recentemente acontecidos. O Moraes Barros vociferou contra Tito da tribuna da Assembleia, sessão de 06 de fevereiro de 1884:

—"Há na província, (...), uma comarca populosa e importante que tem sido pósta fora da lei: é a de Botucatú. Ha ali uma causa perturbadora da administração da justiça que impede a permanência dos juízes que procuram conservar a independencia e isenção de espirito que deviam revestir a todos os magistrados. Juizo de direito, juízo municipal ou promotor que queixara regular seus actos pelos dictames da consciencia, pela illustração que tiver da sciencia do direito, tem fatalmente de abandonar a comarca dentro de pouco tempo, constrangido pela influencia de alguém a quem não se póde desagradar.

(...)".

-(Correio Paulistano, 16/02/1884: 2).

E levou à Assembleia denúncias contra Tito Correa de Mello, sobre acontecimentos diversos, destacando violências e crimes cometidos a mando do capitão, mandador cruel em Botucatu. 

Tito não estava presente na sessão, mas na assentada de 04 de março de 1884, repostou veementemente, defendendo-se, com apartes de Moraes e bate bocas. Tito era um facínora, na visão de Moraes Barros, mas a tudo Tito respondia com calma, defendendo-se, procurando desqualificar o oponente (Correio Paulistano, 16/03/1884: 1).

O promotor Christiano Ritt perdeu o cargo de promotor público, em abril de 1884, atribuindo responsabilidade ao capitão Tito (Correio Paulistano, 22/04/1884: 2), sendo certa sua exoneração conforme se depreende de matéria publicada no Correio Paulistano (06/05/1884: 1), e montou banca de advogado em Botucatu, tendo como clientes os adversários locais e regionais do capitão. 

Outro forte opositor a Tito, o deputado Silveira da Motta, contava com 113 eleitores no município de Botucatu, sede do 5º Distrito, votos poucos, mas de "gente insuspeita, de todos os credos políticos, congraçada para por um paradeiro à série de desmandos praticados pelo 'Tutu' [apelido depreciativo de Tito] de Botucatu" (Donato, 1985: 65).

Silveira da Motta até era interessante para Tito, porque disputava e enfraquecia o Deputado Conservador Coronel Emygdio José da Piedade, na paróquia de Santa Cruz do Rio Pardo, ou seja, a sede e São Pedro do Turvo. 

Jamais Tito se arremeteu contra Silveira da Motta, mas sempre levava vantagem e parecia ter gosto nas contestações do adversário que, da tribuna da Assembleia reclamava que as eleições em Botucatu e todo o 5º Distrito eram ganhas por Tito 'no cacete' (Almeida Pinto, 1994 - termo utilizado). 

Rangel Pestana, o imortal articulista do jornal 'A Província depois O Estado de São Paulo', assim resumiu o poder de capitão Tito: "desde o juiz de direito até os suplentes de juízes, de juiz municipal e de subdelegado, todas as autoridades da comarca são nomeadas mediante consulta feita ao chefe liberal" (Donato, 1985: 64).

A respeito de Tito, também a grande imprensa se dividia; o jornal 'A Província [depois Estado] de São Paulo' lhe era declaradamente hostil, publicando tudo de ruim que lhe atribuíam ou denunciavam os inimigos, numa quase reprodução das críticas discursadas na Assembleia.

Tito se defendia dos detratores, tanto pela tribuna da Assembleia quanto pelos jornais Diário de São Paulo e Tribuna Livre, ambos favoráveis às suas ações e qualidades, lhe dando oportunidades para esclarecer fatos e refutar acusações. Se os inimigos o odiavam, os amigos jamais duvidaram de sua lealdade.

 

11.2. Apoio político dado a candidato para deputado 'imperial'  

Nas eleições de 1884, para Câmara dos Deputados, Tito apoiou Laurindo Abelardo de Brito, até onde exercia influência, e usou de meios fraudulentos e violência a favor do indicado, que apesar do renome na província paulista, não tinha nenhuma penetração nas áreas do 5º Distrito dominadas pelo 'padrinho'.

Em São Pedro do Turvo o capanga de Tito, Joaquim Bueno, a mando e armado, invadiu o local de votação e rasgou o livro ata da apuração das eleições para deputado naquele ano, e ali as eleições foram anuladas. Abelardo de Brito elegeu-se mesmo sem os votos de São Pedro do Turvo, mas lá o adversário, com maior potencial, também nada conseguira. 

O poder de Tito não conheceu limites, numa época que as pugnas políticas eram disputadas acirradamente e com violências. As autoridades evitavam nomeações para Botucatu ou lugares de influência de Tito.


13. O final da 'Era Tito'

—"Para uns, Tito era um bom homem, um grande chefe. Para outros, era truculento, vingativo e perigoso. Entretanto, um fato é inegável: o capitão Tito foi um homem inteligente, dono de boa cultura e muito caritativo. Era mesmo considerado o pai dos pobres, aos quais socorria como conselheiro, advogado e com seus conhecimentos em medicina" (Almeida Pinto 1994: 145-146).

—O advento da república, embora Tito fosse monarquista convicto, em nada lhe diminuiu o poder, feroz e truculento, nem a ascensão do Partido Republicano Paulista - PRP, igualmente feroz, foi capaz de lhe fazer frente na comarca de Botucatu, e outras comarcas regionais onde estabelecidos seus enclaves, como verdadeiros feudos eleitorais e focos de conflitos.

Numa última situação de mando contra opositores, na região de Bocaina, aconteceu a morte de Joaquim de Freitas, o 'Quinzote', de apenas 18 anos, quando o Firmino Toreador, um dos capangas do capitão Tito, deu-lhe um tiro aproveitando a deixa política, por desafeto pessoal. O capitão ganhou a eleição, mas depois deste acontecimento encerrou o seu poder, após meio século como o mais poderoso homem de Botucatu e todas regiões dali desmembradas. 

Para o historiador Hernani Donato, capitão Tito tornou-se a representação botucatuense, e a partir de então, "Todo o resto do século e os primeiros anos da centúria seguinte ressoarão com os ecos da atividade do capitão Tito. A esse dilatado período chamou-se 'Era Capitão Tito'-" (Donato, 1985: 64). 

No primeiro quinquênio do século XX, a história de Botucatu apresenta Tito já velho, cego, cansado e em princípio de decadência, sem nenhum substituto ungido, embora ainda a traçar planos, mandar espancar opositores e ganhar eleições.

Independente de que qualquer poder exercido ou que viesse ocupar, o capitão Tito, por mais de um século pós-morte interessou para a história adiante da serra, pelo que disse e fez acreditar a todos, ter sido ele o convocador quem mandou José Theodoro de Souza conquistar o sertão, através da exterminação indígena e, aos sobreviventes, havendo-os, prendê-los nos aldeamentos ou afugentá-los para além dos rios Paranapanema, Tietê e Paraná. 

Tito não fez isto, pela simples razão de não se encontrar em Botucatu na época do bandeirismo inicial, 1850/1851, e nem poder tinha, ainda, para fazê-lo; e a responsabilidade pelas razias e dadas, promovidas pelo bando de José Theodoro de Souza, Tito não a carregou consigo, e dela, estabelecida a verdade, ninguém pode acusa-lo. 

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Notas:
1. Sobre o Capitão Tito, os autores SatoPrado recomendam o trabalho do autor, pesquisador e historiador, engenheiro Paulo Pinheiro Machado Ciaccia - www.historiadebotucatu.com.br.
2. Todos os assentos eclesiais têm por fonte: https://familysearch.org/
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