domingo, 20 de dezembro de 2009

Imigrantes e imigrações

1. Dados preliminares
Hotel Familiar Tayo - propriedade de imigrante japonês - ano referência
 1935 - Santa Cruz do Rio Pardo à rua Marechal Bittencourt
Gentileza: Geraldo Vieira Martins Junior

1.1. Situações para Santa Cruz do Rio Pardo - uma 'boca do sertão'

Apenas no século XX os agricultores santa-cruzenses, em especial os cafeicultores, associaram-se para o emprego de mão de obra imigrante mista, através de empresas contratantes, na denominada segunda marcha de expansão do café e demais culturas iniciadas já no século XX. Santa Cruz destacou-se nessa fase, após a chegada da ferrovia, fator determinante para o escoamento da produção agrícola.

Santa Cruz recebeu, oficialmente em 1908, os primeiros imigrantes, certo, porém, que outros chegantes europeus já se encontravam no município, a exemplos dos portugueses, espanhóis e italianos, residentes em colônias nas grandes fazendas, cujas registros ignorados em números e procedências.

Nem todos os imigrantes chegaram pelo Porto de Santos, ou, dentre aqueles que por ali entraram, muitos não passaram pela hospedaria e muitos registros perderam-se:

 —"Dos 30.792 immigrantes espontaneos do anno 1908, 20.780 entraram pelo porto de Santos, 303 pela Estrada de Ferro Central e 709 por outras estradas de ferro, mas sómente 7.422 passaram pela Hospedaria da Capital" (R.SNA..., 1908: 116), sendo 103 espontâneos para Santa Cruz do Rio Pardo (R.SNA..., 1908: 104).

Documentos oficiais atestam entradas anuais de imigrantes europeus para Santa Cruz, com passagem pela Hospedaria de Imigrantes:

-1911  - 1.829 (R.SNA..., 1911: 137);

-1912  - 1.386 deles (R.SNA..., 1912/1913: 193);

-1913  - 1.589 (R.SNA..., 1912/1913: 193);

-1914  - 11.114 (R.SNA..., 1914: 168);

-1915  - 1.183 (S/Registro);

-1916  - 483 (R.SNA..., 1916: 162);

-1917  - 668 (R.SNA..., 1817: 124); -1918 - 224 (R.SNA..., 1918: 124).

Não foram anotadas entradas oficiais de imigrantes entre os anos 1919/1921, porém registrados 576 entradistas em 1922 (R.SNA..., 1922: 91), e, no ano de 1923, 1.109 estrangeiros (R.SNA..., 1923: 107).

No ano de 1923, o Quadro Estatístico de Lavoura de Café do Estado por nacionalidade e localidade (R.SNA..., 1923: 12), constava para Santa Cruz do Rio Pardo o total de 319 propriedades cafeeiras, sendo 70 delas de estrangeiros, destacando em números de pés de cafés, 6.683.100 para os brasileiros, e 2.000.000 para estrangeiros, numa porcentagem correspondente a 29,9%. 

Dos imigrantes, por nacionalidade, eram os proprietários de lavouras de café no município (R.SNA..., 1923: 121):

—"Italianos: 57 propriedades com 1.266.000 pés de café;

-Portugueses: 2 propriedades com 93.000 pés de café;

-Espanhóis: 7 propriedades com 74.000 pés de café;

-Alemães: 1 propriedade com 7.000 pés de café;

-Diversas nacionalidades: 3 propriedades com 560.000 pés de café".

 

1.2. Os imigrantes italianos

As primeiras famílias italianas para Santa Cruz, já mencionadas, chegaram antes de 15 de novembro de 1889.

Outras famílias apresentaram-se, espontaneamente, ainda no século XIX:

—"Agazzi; Ambrosia; Aregonha; Baggio; Ballo; Begueto; Benetti; Bertoldi; Boaacci; Bozzio; Bozzoni; Brondi; Camilo; Canassa; Cardin; Carminos; Carrer; Colli; Cornelli; Criveli; Dalmatti; Dapare; Darroz; Delarissa; Della Libera; Dibastiani; Di Giácomo; Esquinilli; Farani; Ferrazini; Fiori; Franciscon: Fraulin [e]; Furlan; Gasparite; Gazzola; Giovanni; Gozzo; Guido; Leopoldo; Longo; Lorenzetti; Ludete; Luidi (Luidge); Magnani; Maitan; Mantovani; Marcato; Mardegan; Mariani,; Marini; Marquesin; Mascati; Mazzante; Menon; Mioto; Murador; Nardi; Negrini; Nigrioni; Pavanelli; Perin; Picinin; Piveta; Poli; Portezan; Rampaolo; Randrano; Ravanelli; Ravedutti; Renofio; Righi; Risi; Rosseto; Sanson; Sarachi; Sartori; Sciarini; Scudeler; Serracini; Simonette; Singolane (Singulani); Tameozo; Tittoneli; Tosini; Venturine; Vidor; Viol; Viotti; Vison; Vuolo e Zanete.

-(Prefeitura, Registros de Sepultamentos exercícios de 1908/1929; e Registros de Estrangeiros pela SS/SP - Delpol, 1930/1939, observando que as grafias eram feitas por entendimento fonêmico).

Dos 'italianos santa-cruzenses', do século XIX, o destaque maior foi o Coronel Moyses Nelli, da Guarda Nacional, negociante, próspero fazendeiro e metido em política, sendo eleito vereador em algumas legislaturas, autoridade policial e judicial - nomeada, e representante da colônia em Santa Cruz do Rio Pardo. Em 1910 Nelli estava empobrecido quando nomeado Ajudante de Coletoria (Correio Paulistano, 26/01/1910: 3).

Nelli, já em Santa Cruz por volta de 1885, iniciou casa assobradada para residência e comércio no ano de 1887, na antiga Praça ou Largo da Liberdade, nela citado morador em 1890 (Mapa Oficial do Alistamento dos Eleitores do Município de Santa Cruz do Rio Pardo).

Após Moyses Nelly destacou-se representante da colônia italiana local, Frediano Colli, e depois Alberto Scazzola, hoteleiro e Agente Consular Italiano (O Contemporaneo, 24/091916: 1). 

A presença italiana foi de extrema importância em todos os setores da sociedade santa-cruzense, embora algumas dificuldades de relacionamentos em Santa Cruz, com alguns casos descritos ao longo deste trabalho.

 

1.3. Os japoneses

Santa Cruz não teve colonização japonesa empresarial e sim a espontânea, com as chegadas de algumas famílias, por indicações, parentescos ou mesmo aventuras. No entanto não devem ser ignorados atuações de intermediários nas contratações em escala de japoneses para a região.

A imigração japonesa no Brasil iniciada em 1908 teve seus primeiros residentes em Santa Cruz nos anos de 1920, para as lavouras de algodão, café a alfafa.

Algumas tradições apontam os primeiros 'japoneses santa-cruzenses' vindos do Vale da Ribeira, após os contratos com a empresa Brasil Takushoko Kaisha, por volta de 1918/1920, ou depois, em 1925, do mesmo Vale, pela empresa Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (Saito y Nogueira, 1989: 274). 

Relatórios de Governo atestam presenças de citadas empresas responsáveis pela entrada dos imigrantes japoneses no Ribeira, contudo não informam destinos após cumprimento de contratos (R.SNA (...), 1916: 141-148; 1925: 117).

O assunto merece melhores atenções quando da efetiva chegada dos primeiros imigrantes nipônicos, em Santa Cruz, sendo a família 'Fukuda' a pioneira, com presença registrada desde maio de 1920, e depois, a partir de 1923 ao ano de 1929, outras apresentam-se residentes no município:

—"Ajzem; Banki (família Koba?); Chibase (Chiba ou Chibata?); Endo; Fukuda; Gaya; Gem (Satoyoski); Goshima; Hamaki; Hashimoto; Hitani; Iokimaru; Izumi; Kawamoto; Kido; Kita; Michioka; Midori; Mine; Nagamatsu; Nagasaki; Naguiro (Naguira); Nakamura; Natsuyo (Natsuno?); Nicase (?); Nisaki (?); Nishifuna (?); Nishina; Ogata (Kiota); Okada; Ozaki; Sato; Satu (Satsu?); Sechinza (Chinza?); Shige; Sota (Soutan?); Suindini (?); Sullare (?); Sute (Suto?); Tamagushi; Tanaka; Taniguchi; Tanowa (Tanowaki?); Teozsma C... (Tegima - Tagima?); Thora (Toraya - Torai?); Tomaki; Toyoshi; Shinoda; Ueda; Ueto (Uete - Ueti ?); Umisu (Umezu?); Yamami; Yamashita; Yamazaki; Ynumuro; Yoshida; Yoshisaki; Wakataru (Nituceque Vaccatalu - conforme escrito); Ziu (Chiu?).

-" (Prefeitura, Registros de Sepultamentos, 1908/1929 e Registro de Estrangeiros pela SS/SP - Delpol, 1930/1939, sendo as grafias originariamente feitas por entendimento fonêmico, às vezes com inversões de nomes e sobrenomes em alguns documentos e até ilegibilidade de alguns, sabendo-se, no entanto, sabendo-se tratar das mesmas pessoas ou famílias).

No ano de 1924 a família 'Yoshisaki' era proprietária do Hotel Familiar, em Santa Cruz do Rio Pardo, situado à Rua Marechal Bittencourt (A Cidade, 18/04/1924: 6).

Ainda em 1924 noticiou-se: "a japonesa Yone Ynumuro, accusada de haver, ha cerca de tres mezes, em sua residencia nas proximidades desta cidade, assassinado um seu patricio. Defendeu-a, o dr. Vasco de Andrade, que conseguiu a sua absolvição unânime" (A Cidade, 04/12/1924: 2).

Não se tem o nome da vítima, contudo existe registro de 19 de outubro de 1924, referente ao óbito e sepultamento de Nituceque Vaccatalu [respeitada a grafia], com idade de 23 anos, sem nenhum outro japonês, adulto, falecido no período correspondente ao assassinato cometido por Yone Ynumuro.

Em 05 de janeiro de 1925, o japonês 'Ogata Kiota' comunica a Municipalidade:

—"(...) não continuando neste exercício com o seu negócio de seccos e molhados e hotel de 2ª classe, vem respeitosamente ante V.Exa., requerer a competente baixa, não tendo feito em termo oporttuno por desconhecer a lei Municipal que rege a materia pelo que confiado nos supplementos de V.Exa. pede ser atendido." -(Prefeitura, Livro de Registros - Requerimentos, exercício de 1925).

—Não há informações confiáveis que o estabelecimento hoteleiro de Kiota seja o mesmo que pertencera à família Yoshisaki, na Rua Marechal Bittencourt.

Em 1925 noticiou-se nova chegada de japoneses, na propriedade de José Augusto Junqueira, denominada Fazenda Santa Clara. O Inspetor Sanitário da Capital, Haroldo Reis, veio certificar-se das condições de sanidade dos imigrantes, recomendando a vacinação contra o tifo e a varíola (A Cidade, 27/03/1925: 1).

No ano de 1926 existiam colônias japonesas em Santa Cruz do Rio Pardo, Espírito Santo do Turvo e Chavantes. Nota Policial daquele ano menciona as três localidades:

—"Colonos que fogem - O fiscal da fazenda São Domingos - Julio Iokimaro - queixou-se à delegacia de que, na madrugada de 26, os colonos japonezes Satoyoski Gen e Mitrucki Okada acompanhados de suas famílias fugiram da mesma fazenda, onde tinham apreciavel debito, furtando ainda a patricios cobertores e miudezas varias. Ao que consta, os fugitivos tomaram rumo de Espirito Santo ou de Chavantes, onde têm parentes" (A Cidade, 02/05/1926: 2).

Destaque entre as primeiras famílias nipônicas estava os Banki, pelo menos desde 1927, conforme biografia referente ao Cônego Ângelo Banki idade de 82 anos em 2009:

—"Nascido em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) Banki é o sétimo de 10 filhos de um casal que deixou Hiroshima para desembarcar no Brasil em 1914, apenas seis anos depois dos primeiros imigrantes nipônicos chegarem ao país. Logo, a família que chegou a enfrentar a fome, primeira realidade dos imigrantes orientais que sonhavam em ganhar dinheiro rápido e voltar para a terra natal, converteram-se ao catolicismo. E o menino Ângelo, aos 10 anos, não teve dúvidas quando o pai lhe perguntou se não queria ser padre. Rapidamente disse sim e pela primeira vez calçou um par de sapatos para ir estudar na capital." (Santin, 2009: 1). 

Com maiores divulgações históricas, a partir de 1930 apresentam-se outras famílias, destacando-se as Kawbata, Izumi e Yoneda. Em 1934, chegou a Santa Cruz, Toji Amemiya, na época com 16 anos, unindo-se posteriormente, pelo matrimônio com Kasuko, à família Tamura (Debate, 15/06/2008), adotando o sobrenome Tamura Kasuko, aos 10 anos em 1934, veio para o Brasil com membros da família, aportando-se em Santos, seguindo para Jaboticabal como colonos numa fazenda por um período de dois anos, mais outro biênio como meeiros e depois arrendatários, até que em 1940 chegaram à região de Santa Cruz do Rio Pardo. Nessa época, Kasuko conheceu Toji, com quem se casou em 1942.

A partir dos anos de 1935, chegaram à região de Santa Cruz membros da família Suzuki [Michiyoshi, Shozo, Seiko e Teruichi], com entrada no Brasil no ano de 1932, por algum tempo no município de Cerqueira Cesar (07/06/2009, dados referenciais em jornal Debate).

Outras famílias japonesas, após ou mesmo anteriores a 1935, estão registradas em Santa Cruz:

Abe; Ashikaga; Beppu; Amaze; Amura; Aoki; Aragaki; Ashikawa; Fugita; Furuya; Ganiko; Hagime; Hamada; Harada; Hassegawa; Hayasaka; Henna; Hirata; Hirano; Honda; Hoshi; Ichimura; Ikeda; Igari; Isamo; Ishii; Ishiwashi; Ito; Ivama; Kaawano; Kadoi; Kawamura; Kawati; Kameda; Kamei; Kanai; Kassai; Kato; Koba (Banki Koba - família Banki dos anos de 1920?); Kobayashi; Kobata; Komino; Kuwahara; Mamura; Matsui; Matsumoto; Miagi; Miyshiro; Momura; Morita; Myata; Nakandakari; Nacasse; Nacatamo; Nacauma; Nagagushi; Nagai; Nagatomo; Nakatami; Niitsuma; Oguro; Okura; Oki; Osagi; Sakai; Sasaki; Sato; Saito; Shiracawa (Shirakawa); Shiraishi; Suga; Tada; Takahashi; Takamori; Takiushi; Tanaka; Todokoro; Tokanaga; Tomori; Tomita; Tomoike; Tukuzaki; Tsuhata; Ueda; Ueno; Umetsu; Umino; Ushiwata; Ushida; Watanabe; Yabuki; Yaeda; Yamada; Yamamoto; Yamasaki; Yamashita. A colônia era ativa e crescente. 

—Documento de 1935 revela instalado em Santa Cruz do Rio Pardo o Hotel Tayô, da família Kuwabara, à rua Marechal Bittencourt, com inscrições em caracteres katakana e kandi. 

Um documento da época mostra a Casa Comercial Yoneda e familiares, sendo o estabelecimento situado à Rua Marechal Bittencourt esquina com a Antonio Mardegan.

A loja e o hotel já existiriam nos anos de 1920, primeiro como propriedades da família Yoshisaki, depois de Ogata [Kiota].

A família Sugisawa, casal e sete filhos - uma filha morreu na viagem, instalou-se em Santa Cruz do Rio Pardo vinda do Japão em 1937, para o trabalho numa fazenda local (Assembleia Legislativa do Estado do Paraná - Projeto de Lei 137/2009, título de 'Cidadão Honorário do Estado do Paraná', ao Sr. Saburo Sugisawa, nascido no Japão em 1934). 

A família Sassaki também chegou antes da 2ª Guerra, assim como outros nipônicos que no todo ou em parte foram residir em outros municípios dos estados paulista e paranaense.

 

1.4. Imigrantes (famílias) de outras nacionalidades

Imigrantes, de nacionalidades diversas, chegaram a Santa Cruz, destacando:

—"Alemã: Bartel; Flanuz; Hiese; Humberto (aportuguesado); Kroemia (Croemia); Miller; Piechotlka; Richter; Wolf (presença registrada na região santa-cruzense desde os anos de 1870).

- Árabe: Queiroz (aportuguesado de Keiruz, assemelhando-se com sobrenomes iguais de origem síria e libaneza).

- Argentina: Alóe (não confundir com família Alóe italiana); Lozano.

- Austríaca: Cassoto; Gassmer; Kievi; Malanche; Malurch; Paviot; Prensaki; Schneider; Vicentin; Wolf (século XX - confunde-se com sobrenome alemão); Yega.

- Belga: Jasogne Castano (?).

- Chilena: Domingues.

- Cubana: Saliba, sobrenome que não deve ser confundido com Saliba, de origem libaneza, não descartando, porém, algum parentesco ou igual origem primária).

- Espanhola: Ascencio; Castelhano, Cecilia; Cid; Garcia; Gimenes; Gomes; Neguardo; Martins; Munhos; Oliveira; Ortega Orta; Parianês; Parra; Peralta; Perez; Puertas; Ramos; Rodrigues; Santiago; Vasquez (Vasques).

- Francesa: Brandt; Nantes (anterior ao período imigração, com presença regional desde 1851).

- Húngara: Etieme; Hessen; Komyama (não deve ser confundido com sobrenome japones); Madarassy; Pinter; Sciba; Tavez.

- Indiana: Raj.

- Inglesa: Dayy; Shieffield.

- Iugoslava: Ban [origem croata]; Cimeman; Gaich; Kovacth.

- Libaneza: Abujamra; Assef; Dabus; Germanos; Ghamlouche; Ibrahim; Kanan; Keiruz (confunde-se ou aparenta-se com o sírio Queiroz - aportuguesado); Maluly; Rahuné; Saad; Saliba; Trad.

- Lituana: Denisovas; Geciumes; Meliumas; Micaskis; Polzunoff; Tamkas; Trimarchas.

- Napolitana: Schirillo; Simiscarco. (Os napolitanos não eram contados italianos). -Palestina: Bassit.

- Paraguaia: Morinigo.

- Polonesa: Alzim; Namcinsk.

- Portuguesa: Amorim; Caetano; Espírito Santo; Fernandes; Freitas; Gomes; Gonçalves; Luz; Martins; Pestana; Ribeiro; Santos; Tavares da Silva; Veríssimo. -Rumena: Andrei; Crestiocor; Danielenco; Fingarman; Hogan; Macarie; Pereverzin; Radulenco; Vezetiv.

- Russa: Busck; Cavalchuk; Croval; Dacowoy; Peniverzoma (?); Pereverzium; Polzonoff; Romancine; Semmence; Sirache; Truchskini.

- Síria: Abras; Brehaim; Honório; Queiroz (família que antecedeu a imigração, presente em Santa Cruz do Rio Pardo desde o século XIX); Riston; Zacura; Zieck [Ziecl?].

- Suíça: Dubuis."

- (Fontes: Prefeitura, Registros de Sepultamentos, 1908/1929; e Registro de Estrangeiros pela SS/SP - Delpol, 1930/1939; observando que as grafias às vezes se apresentam por entendimento fonêmico).

Os chineses intentaram utilizar-se gratuitamente dos cavalos disponíveis alugados por Edmundo Krug:

—"O meu amigo Quinzote percebe que os taes não eram cavalleiros firmes na sella, e desejando ver-se livre delles, mas não querendo recusar, accedeu promptamente ao pedido, ajudando até aos dignos homens amarellos a montarem, entregando-lhes em seguida um bahú de folha, no qual se achavam as suas ferramentas e algumas roupas. O pobre chinez tendo puchado demasiadamente as redeas, o animal começou a afastar até que teve de encostar ela rectaguarda numa vidraça da casa de um italiano pouco cortez. Vidros quebraram-se, tiniram os cacos na calçada, o italiano berra e o animal espanta-se de tal forma que, como toda besta velhaca, começa a corcovear; o chinez deixa o bahú cahir, as patas do animal pizam-n'o e o pobre mongolo vem ao solo magoando-se fortemente na sua digna parte musculosa."

- (Krug, 1925: 403-404).

A história não registra os citados chineses em Santa Cruz do Rio Pardo.

 

2. Estrangeiros fichados, presos e torturados

Os imigrantes não tiveram vida fácil no Brasil e nem no recanto sudoeste e oeste paulista, sendo alvo de discriminações, atos de violências e de denúncias, nas duas grandes guerras mundiais, além dos rigores das autoridades brasileiras, sobretudo ou mais lembrado durante a último conflito, através das medidas que atingiram imigrantes e descendentes italianos, alemães e japoneses que constituíam os oriundos do 'EIXO' - Alemanha, Itália e Japão, no jargão denominado 'ROBERTO' pelas iniciais das capitais daquelas nações: 'Roma Berlim e Tóquio'.

Os fichamentos, prisões e torturas podiam ocorrer com membros de organizações ou suspeitas de secretismo, de líderes comunitários, parentes de algum suspeito, ou mesmo por falar o idioma proibido. 

 

3. Segunda guerra mundial - e os japoneses sofreram mais

Os filhos dos japoneses antes da 2ª Guerra Mundial tinham escolas próprias e, também, frequentavam estabelecimentos brasileiros de ensino. Porém, em 1938, Vargas impusera restrições culturais aos nipônicos e as escolas japonesas foram proibidas, de alguma maneira sob a alegação da proibição constitucional, de 1937, de línguas estrangeiras nos cursos regulares de ensino e não tolerada para menores de quatorze anos.

Depois uma série de decretos-leis entre 1938 e 1939, impunha restrições culturais aos nipônicos, e as famílias abandonaram muitos costumes.

A cultura japonesa, num todo, diferenciava-se dos usos, tradições e costumes brasileiros e tornaram-se exprobrados e discriminados pela sociedade brasileira capitalista, que visavam o branqueamento nacional, com agravamento à medida da aproximação de Getulio Vargas com os Estados Unidos, quando indiscriminadamente os japoneses radicados tornaram-se, à visão do governo, inimigos do Brasil.

Ainda neste período, aparentemente, integração e a convivência japonesa na sociedade santa-cruzense não apresentava grandes desconfortos para as famílias Yoshisaki, Ogata, Kuwabara, Yoneda e Banki, enquanto outras sofriam rejeições sociais.

Os Banki, Yoshisaki, Ogata e Kuwabara já não estariam em Santa Cruz do Rio Pardo nos tempos da guerra.

Aos 29 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu com o Eixo, em solidariedade aos Estados Unidos, pelo ataque japonês a 'Pearl Harbor' - acontecimento de 07 de dezembro de 1941, obrigando todo o corpo diplomático japonês a deixar o país.

Entre si os imigrantes japoneses acudiam-se, através de associações secretas, ocultas ou clandestinas, alvo dos órgãos repressivos do governo brasileiro. As inquietudes dos radicados quanto ao destino da guerra tiravam-nos do anonimato, diante da preocupação quanto à sobrevivência familiar ou mesmo grupal num Brasil cada vez mais hostil. 

Para os imigrantes japoneses o Japão precisava ganhar a Guerra, e evidentemente expressavam o querer entre os conterrâneos, através de parentes, das apresentações artísticas, dos filmes contrabandeados, das revistas no idioma, e dos viajantes, que depois o governo brasileiro suspeitou-os espiões.

Novo Decreto de Vargas, e já não se podia mais falar em público o idioma de cada nação do Eixo, com ou sem intérprete, além da exigência de salvo-conduto nos deslocamentos regionais e proibição total de qualquer manifestação cultural, mesmo familiar. Também as atividades de trabalho dos japoneses, em todo estado de São Paulo, tornaram-se alvo de fiscalização embasada em Edital pela Superintendência de Segurança Pública do Estado.

Mesmo clandestinas destacam-se as "Sociedade Secreta Japonesa Shindo Remmey: Prontuário 108981 - Caixa 247" e a "Sociedade Secreta Japonesa Shindo Ketumei Dan (Prontuário 64244 - Caixa 247", PROIN). 

Diversas famílias japonesas em Santa Cruz do Rio Pardo ficaram sob observações policiais, ainda antes do fim da guerra, acontecida com a capitulação japonesa, e em cena a 'Shindo Renmei', pelos 'kachigumi' ou vitoristas, pregoeira que a rendição era propaganda americana/ocidental, perseguindo os 'makegumi', derrotistas ou realistas, com extrema violência e mesmo mortes. Os 'kachigumi' eram maioria nos cerca de 200 mil colonos no Brasil da época, enquanto os derrotistas não passavam de vinte mil indivíduos, em torno de 20% do total de imigrantes e descendentes.

Nunca se fez em Santa Cruz e região que antes lhe pertencera, qualquer levantamento do pós-guerra sobre o alcance dos 'kachigumi' sobre os 'makegumi', ou mesmo as reações destes em relação aos patrícios rivais.

Sabe-se que a 'Organização Shindo Renmei' santa-cruzense existiu, assinalada em mapa (Arquivos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), inserido na obra Corações Sujos (Morais, 2004: 152-153), porém as famílias nipônicas evitam o assunto, e os descendentes talvez desconheçam, e, como tabu, tudo caminha para o apagamento da memória.

A 'Shindo Renmei' foi desfeita no ano de 1947, quando Vargas mandou interrogar mais de 30 mil pessoas, prendendo 300 suspeitos e 155 ameaçados de expulsão.

Durante o período descrito alguns japoneses 'santa-cruzenses' foram monitorados pela polícia política de Vargas e tiveram que prestar esclarecimentos, alguns presos e, entre os fichados:

—"Akio Kato; Akio Myamura; Asaji Takahashi; Chiko Shoji; Chuzaemon Shoji; Fukashi Saito - Caporanga; Hactiro Tomita; Haruo Fujii; Hideshi Yoneda; Hiroshi Sato; Jutaro Watanebe [Watanabe]; Kibutaro Saito; Kintaro Ueno; Kiyoma Hamada - Alambari; Kndzi [Kendi] Kanazawa; Kohiro [Koichiti] Sato - pai da coautora Junko Sato Prado; Kotuku Arakaki; Kotuku Arakaki; Massao Sato -atuante na região de Tupã (SP), tio da coautora; Massayuki Takaahaci [Takahachi]; Michiyoshi Suzuki; Mitsuo Kameda; Mituo Myasaki; Morimitsu Aizawa; Mussamito Takaahaci [Takahachi]; Myoji Sato; Nobuhiko Myake; Norio Takahatake; Ryutaro Kurahashi - São Pedro do Turvo; Saburo Fugiwara; Setsuo Tanno; Shigeru Kanico [Ganiko]; Shinzo Matida; Sunao Muraguchi; Takao Yoda; Takesshi Yamamoto; Tatume Fukuzaki; Tetsu Kawabata; Tokujiro Tajima: Tutume Furusaki; Yasuhei Aoki; e Yasusige Nagai" (DEOPS/PROIN: Fichas Policiais para Santa Cruz do Rio Pardo).

Os fichamentos e prisões podiam ocorrer com membros de organizações ou suspeitas de secretismo, de líderes comunitários, parentes de algum suspeito, ou mesmo por falar o idioma proibido.

Yasusige, morador em Santa Cruz do Rio Pardo, foi preso por falar japonês e teve situação agravada em causa das diferentes grafias do seu nome em português.  

O fotógrafo Kintaro Ueno, residente à Rua Floriano Peixoto nº 166, em Santa Cruz do Rio Pardo, teve apreendido seu material fotográfico porque as fotos, para o seu livro, tinham legendas em japonês.

—"O professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), juntou o material de dois dos fotógrafos imigrantes ali encontrados: Kintaro Ueno e Hideo Hayashida que, segundo escreve o professor, registraram 'o progresso para os que não temiam o trabalho árduo', em meio ao preconceito e desconfiança do Estado Novo. Nas imagens, famílias inteiras reunidas vestem suas melhores roupas a fim de construir um autorretrato de sucesso" (Montesanti, 2011: 2).

A abertura política somente ocorreria a partir de 1952, com o reatamento das relações diplomáticas Brasil/Japão, mais propriamente em 1958/1960, reabrindo algumas escolas japonesas, com números menores pela adaptação geográfica e cultural dos filhos no Brasil, e então muito se perdeu, e apenas a culinária japonesa tem sido assimilada pelos lares brasileiros, mas a riqueza cultural japonesa dos primeiros tempos da imigração, apenas sobrevive, adaptada, entre antigos descendentes. 

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Movimentações