domingo, 20 de dezembro de 2009

- O 'Santo Menino da Tábua'

1. Veneração ainda em vida
Antonio Marcelino - o 'Menino da Tábua' - imagem
domínio público
Sem questionamentos quanto às conquistas e realizações pela fé, sem quaisquer desmerecimentos, abaixo apresentam-se duas versões sertanejas a respeito do 'Menino da Tábua'.
A história religiosa de Antonio Marcelino, 'O Menino da Tábua' - também conhecido por Toninho, consta originário da localidade de Pitangueiras, depois Nossa Senhora do Patrocínio, hoje Maracaí, interior de São Paulo, no final do século XIX ou início do XX, nascido prematuro (7 meses), porém aparentemente normal. Seus pais, Sebastião Rodrigues de Oliveira e Geraldina Maria de Jesus, eram humildes lavradores, e ele teve outros irmãos sem anomalias físicas. 
Desde logo os pais perceberam que a cabeça do menino desenvolvia normalmente, mas o corpo não crescia em igual proporção, por certo portador de deficiência física pouco esclarecida para a época.
Outro fato observável e comentado, menino se agitava muito se posto em uma cama, rede ou qualquer outro lugar, num choro sofrido e continuado, somente a aquietar-se sobre uma tábua de lavar roupa, que parecia melhor adaptável à deformidade de seu corpo. Alimentava-se apenas de leite e água.
A família era bastante religiosa, e já em vida Antonio Marcelino realizava milagres de curas até quando sua morte aos 45 anos de idade, às 18,00 horas do dia 31 de agosto de 1945, conforme Certidão de Óbito [nº 3073], e que a tradição diz ser em igual dia e hora que Toninho nascera quarenta e cinco anos antes. O corpo de Toninho foi conduzido naquela mesma tábua que lhe serviu de leito durante quase meio século, e com ela foi sepultado.
A tradição também diz que Antonio Marcelino jamais viu a luz do sol, porque não saía de um quarto escuro, um contrassenso afinal ele era posto em carro de boi para esmolar, pelo sertão, com a família. Também, reza a lenda que ele jamais usou roupa, mesmo em tempos de rigoroso inverno e recusava até coberta sobre o corpo. Se o colocasse vestido à força, misteriosamente desfazia-se das roupas sem ninguém perceber.
São muitos os ditos milagres do Menino da Tábua, com maior número após sua morte, todavia a Igreja observa tudo isso com bastante cautela; se não aceita os milagres, oficialmente, da mesma forma não impede a lucrativa peregrinação de fé popular, uma verdadeira romaria de pedintes de graças, ou de agradecidos, diante de seu túmulo.
Não se discute fé; se alguém possa entendê-la ou bem dimensioná-la, a crença deixaria de ser fé para tornar-se ciência.
Esse é o resumo daquilo seria a história do Menino da Tábua, que há décadas tem sido atração religiosa para romeiros de todo o Brasil e até do exterior [Paraguai e Argentina], que nos fins de semanas e feriados agitam a pequena Maracaí, para muitos a cidade do consolo espiritual.
Na capela, onde jaz sepulto Antonio Marcelino, e na Sala das Bênçãos [ou dos Milagres] estão expostos muitos objetos, fotos e presentes que a ele são dedicados como forma de agradecimento testemunhal. Ali constam relatos que provam curas miraculosas e muitos pensam requerer do Vaticano, seja concedida ao Menino da Tábua a honra de Servo de Deus, já com vistas à Beatificação pela constatação de pelo menos um milagre comprovado pela Medicina - dizem, na pessoa de uma enfermeira residente na cidade de Assis, curada de câncer depois de pedido graça ao Menino da Tábua.

2. Os contraditores da fé
Os mais antigos da região, obviamente não católicos e nem crédulos aos feitos de Antonio Marcelino – em vida e em espírito, dizem que tão logo apresentou os sintomas de deformidade física, o Padre Francisco José Serôdio imaginou transformar aquele sertão num pólo religioso, ao perceber que o menino tinha certa tendência para obediência e atos programados. Ensinou-o, então, comunicar-se com o mundo exterior sem excessos, apenas aquilo que realmente fazia comover os observantes.
Teria sido Serôdio o primeiro a divulgar milagres de Marcelino, naqueles tempos em que o Padre era obrigado a saber um pouco de tudo, inclusive das artes de curar, e ele tinha, certamente, o seu Chernoviz, bom o suficiente para curar algumas moléstias sem precisar de médicos, e aplicava seus conhecimentos com medicamentos mais ou menos seguros, que devidamente foram colocados diante ou na presença do 'Menino da Tábua'.
A tradição do menino que recusava vestimentas sobre o corpo, conta os antigos céticos, também foi artimanha de Serôdio ao observar que o menino não reagia a beliscões, calor ou frio, para assim deixá-lo num lugar mais escuro ou à meia-luz, próximo de uma parede, onde bastava mover um tirante de sob a tábua para tirar a coberta, lençol ou túnica de sobre o menino.
Quando Serôdio permanecia na região, o Menino ficava na Sacristia de sua Igreja; quando não presente deixava o pequeno com os pais, devidamente instruídos para uma peregrinação, regional, promovendo rezas e a angariar donativos que Antonio Marcelino, provocado por um toque, retribuía num tartamudeado 'DEUSOVANÇOE' entendido como um deus abençoe, como agradecimento.
Nestas saídas Toninho permanecia sempre sobre a tábua, no assoalho do carro de boi ou de um carroção, porém coberto para não mostrar as vergonhas.
Anos depois, já sem a presença de Serôdio, os capuchinhos abandonaram o Aldeamento de Campos Novos, deixando os índios que se matassem entre si ou fossem massacrados pelos brancos, para 'tomarem de assalto' a paróquia de Conceição de Monte Alegre e institucionalizar o culto ao Menino da Tábua, dando causa a acirrada disputa entre Conceição de Monte Alegre e Maracaí, que manteve para si a guarda daquela família abençoada, cujos membros não trabalhavam, só oravam e recebiam doações.
Os membros da família também brigavam pela posse do milagreiro, uma guerra silenciosa, oculta, conduzida de tal forma a contribuir para o menino virar lenda. Os pais morreram e o irmão mais velho tomou para si a extenuante tarefa de correr a região, em dias da semana, com intenções não tão católicas de dar bênçãos aos necessitados em troca de donativos. 
Aos domingos, quase sempre, e dias de festas religiosas, obrigatoriamente Marcelino ficava na Igreja a abençoar a romaria sertaneja.

3. A morte do 'santo'
A morte do Antonio Marcelino não diminuiu seus encantos senão para a família, agora obrigada ao trabalho para sobrevivência. A Igreja, enfim, triunfou quanto a posse do garoto, porque a ela cabe os cuidados da alma.
Atualmente todo o município beneficia-se com o Menino da Tábua, pelas romarias que por lá acontecem. São diversos os exemplos de orações ao santo popular, para diferentes necessidades, sendo a Oração dos Endividados uma das mais rezadas: 
—"Oh! Menino da Tábua [cita-se ou não o nome Antonio Marcelino precedido do qualificativo Santo], já ouvi falar muito em você e seus milagres; por isso estou aqui lhe pedindo ajuda na minha vida financeira. Ajude-me Menino da Tábua, que este seja o ano de realizações para a minha vida, que eu consiga colocá-la em ordem, pois quero e preciso pagar todas as minhas dívidas, me dê forças e sabedoria para saber conduzir a situação até resolvê-la uma a uma. Obrigado. Eu sei que você vai me atender e interceder por mim junto a Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem Maria'.—  
—Após a oração se deve rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai, geralmente o solicitante a comprometer retorno para agradecimentos, ou ajudar uma instituição de caridade.