domingo, 20 de dezembro de 2009

- Coronel Antonio Evangelista da Silva - o famigerado Tonico Lista

1. Prenunciações de um líder firmado na violência
Coronel Antonio Evangelista da Silva - o Tonico Lista
Foto: O Contemporâneo - 05/09/1916
Acervo: SatoPrado
Antonio Candido da Silva tinha 18 anos de idade, em 1885, quando a família chegou a Santa Cruz do Rio Pardo, aonde já residentes alguns de seus parentes, e outros viriam quando ele já em ascenção política, próspero comerciante e o nome trocado para Antonio Evangelista da Silva. Nascera e fora criado em São Simão - SP.
Aos 10 de junho de 1892, Tonico Lista "na casa da prostituta Maria Antonia do Espirito Santo feriu mortalmente Manoel Bispo e gravemente Nepomuceno [...] da Silva" (O Combate, 03/11/1921: 3), que a seguir veio a óbito, ambos integrantes do 7º Batalhão de São Paulo, aquartelado em Santa Cruz, com destino a São Pedro do Turvo, com objetivo de prender o místico autointitulado frei Manoel (Rios, 2004: 21).
Livrou-se do flagrante, depois se apresentou, ficou alguns dias preso, foi a julgamento e absolvido pelo tribunal do júri, por legítima defesa.
Lista em 1900 já era capitão da Guarda Nacional, perrepista seguidor político do coronel João Baptista Botelho, apeado do poder, levado à dissidência do PRP e morto em 1902, consequência de tentativa de suicídio. Tonico Lista manteve-se fiel ao chefe substituto, o advogado Olympio Rodrigues Pimentel, a quem auxiliou no preparo para as eleições gerais de vinte oito de fevereiro de 1903, cuja grei criou tumultos, lançou protestos, mudou o local de votação para os seguidores e simpatizantes, registrou os votos em cartório, e perdeu as eleições.
Tonico prenunciava-se violento. No ano de 1904, acompanhado de alguns capangas, surrou violentamente o sargento Augusto Luiz [?] de Camargo (O Combate, edição de 03/11/1921: 3), ocupante do cargo de delegado. Tonico foi denunciado, pronunciado e julgado livre pelo tribunal do júri.
No mesmo ano, Tonico em conluio com Olympio Rodrigues Pimentel, ordenou a morte do capitão Jacob Antonio Molitor, braço armado do PRP situacionista em Santa Cruz do Rio Pardo, sob o comando do fazendeiro, advogado e político Antonio José da Costa Junior e do genro deste, o médico, fazendeiro e presidente da Câmara, Francisco de Paula de Abreu Sodré.
Lista e Pimentel foram presos por 'recomendação' do Dr. Costa Junior, ao juiz substituto, Moyses Nelli:
—"(...) mediante requerimento de um promotor mais instrumento ainda, requeresse a prisão preventiva das pessoas que o dr. Costa Junior quis que ficassem envolvidas no processo, tanto que foram presos, preventivamente, o dr. Olympio Rodrigues Pimentel e o capitão Antonio Evangelista da Silva." (Correio Paulistano, 08/11/1905: 5).
Ambos em liberdade mediante habeas-corpus pelo Egrégio Tribunal de Justiça.

2. Assumindo o poder perrepista santa-cruzense
Abreu Sodré e Costa Junior optaram por não apoiar nem aceitar a liderança regional do político pirajuense Ataliba Leonel, todavia este, guindado ao poder e acercado de ilustres nomes perrepistas da poderosa Comissão Central do Partido, destituiu o diretório situacionista santa-cruzense e o entregou ao Tonico Lista.
Lista, a partir de 1907, acercado de doutores e jagunços, iniciou o poder político absoluto que entendera possuir.
Os adversários o acusavam de 'encabrestar votos', fraudar eleições, eliminar inimigos, promover incêndio numa das salas da delegacia de polícia ou do fórum, mas nada se provava contra ele, e sua fama correu sertão para além das divisas do estado, espécie de lenda viva que tudo podia e fazia contra adversários e inimigos, ao mesmo tempo que protetor dos colaboradores e asseclas.
"Uma série de odientos crimes viria incitar ainda maior rancor entre as facções políticas, onde as paixões cegavam os homens, e as rixas e vinditas de famílias sucediam, e corroborava-se mais uma vez o velho provérbio dos silvícolas: 'A árvore do esquecimento não pode mais brotar onde o sangue correu." (Rios, 2004: 95).
Lista mandava em toda a comarca santa-cruzense, fez correr os políticos adversário, e não admitida contestações ou rivalidades.
O coronel João Pedro quis fazer-se 'todo poderoso' em São Pedro do Turvo, declarou-se divergente, na tentativa em unificar o coronelato de lá e foi morto, em 1908, a mando ou pelo próprio também coronel são-pedrense, Marciano José Ferreira, como favor prestado ao primo Tonico Lista.
O coronel Emygdio José da Piedade Filho, tornava-se expressiva liderança política em Ipaussu, opondo-se ao Ataliba Leonel, além de afrontamento do poder de Lista na comarca.
—"Piedade viajando pela estrada que passava pelo sitio onde hoje se encontra a villa de Irapé e chegando-se a uma porteira para abril-a, encontrou-a amarrada ao batente; enquanto procurava desatar o nó, recebeu uma bala que lhe atravessou o peito, cahindo morto no mesmo instante." (Nogueira Cobra, 1923: 185).
Lista livrou-se das acusações de mandante, embora o tenha sido e, posteriormente denunciado.

3. Expulsão de um juiz de direito
O juiz da comarca entre 1905/1909, Francisco Cardoso Ribeiro, protegido de Washington Luiz, atritou-se com o Lista, ao envolver em processo um delegado militar, tenente da polícia, que a este resultou dois anos de prisão.
Tonico não apenas ordenou a soltura do preso, como ultimou o juiz a abandonar a comarca, sob pena de represália. O magistrado ignorou a ordem e saiu para uma incerta com o delegado de policia e seu amigo, Eugenio Martins, quando ocorreu atentado a tiro que feriu gravemente a autoridade policial.
O juiz, temeroso pela própria vida, deixou Santa Cruz escondido numa carroça para transporte de pães, conduzida por João Dalmati até a estação ferroviária de Bernardino de Campos.
Alguns anos depois, em 1920, Cardoso Ribeiro assumiu o cargo de Secretário de Justiça e da Segurança Pública no Governo [Estadual] de Washington Luiz, e, então, viria à forra contra o algoz Tonico Lista, aliando-se aos seus adversários em Santa Cruz e região.

4. Possível enfrentamento ao coronel Sanches
Francisco Sanches de Figueiredo o todo poderoso coronel da comarca campos-novense, desentendera-se com o agrimensor, também coronel, Marciano José Ferreira, primo do Tonico Lista.
Os serviços de Marciano interessavam ao coronel Sanches e associaram-se por algum tempo. Não tardou, porém, Sanches desconfiar das intenções de Marciano denunciá-lo às autoridades, nas questões de terras - grilagens e dadas contra os indígenas, e, assim, com ou sem razões para as dúvidas, resolveu elimina-lo.
Alheio às tramas, Marciano foi contratado por Sanches para medir e divisar terras, para os lados do Ribeirão das Anhumas, adiante das terras dos Medeiros, então a última sentinela conhecida do sertão. A equipe de Marciano compunha-se de trinta homens.
Num afastamento de seu grupo Marciano desapareceu, misteriosamente, de nada a adiantar tantas expedições procurá-lo. Encontraram suas roupas e armamentos, viram restos de fogueira recente à maneira dos brancos, mais nada.
Nogueira Cobra confirma que Sanches tinha motivos para matar Marciano, pois que este dissera a terceiros da intenção em denunciar o coronel ao governo central, pelas práticas de 'dadas' e escravização indígena (1923: 143).
Com a sumição do primo Marciano, Lista teria urdido a eliminação de Sanches, através de seu aliado em Campos Novos, José Antonio Garcia, e o assassinato ocorreu aos aos 22 de fevereiro de 1912. Jacques Sodré (1951: 12) atribuiu responsabilidade a Garcia pela morte do coronel, sendo conhecidos os executores Brasiliano da Silveira Castro, foragido na Argentina, e João Antonio de Campos, preso na localidade de Pereiras - SP, morto na cadeia antes de ir a julgamento (Processo 010/1912, Platina - SP, Arquivos CEDAP/Assis, Referência III C12, Caixa 25/26).
Os homicidas eram vinculados ou estavam a soldo do Garcia, e o crime repercutiu em todo o Brasil, nunca solucionado.

5. A morte do capitão Moraes Peixe
O violento José Antonio de Moraes Peixe em 1913 adquirira terras de Lista, parte onde hoje a Chácara Peixe, zona urbana santa-cruzense. Comprara sob a condição de extrair do todo uma pequena data ou chácara, destinada pelo coronel à família Lara.
O Peixe não cumpriu o combinado e foi morto a mando de Lista:
"(...) com a cumplicidade de seu cunhado Alfredo Antonio Gonçalves, vulgo Nenê Narciso, mandou assassinar ao fazendeiro José Antonio de Moraes Peixe, cujo inquerito está em andamento. Para afastar as suspeitas, Antonio Evangelista da Silva fez uma viagem a S. Paulo, deixando ordens criminosas, que foram fielmente executadas." (O Combate, 03/11/1921: 3).
Lista livrou-se das acusações na época, todavia, posteriormente identificado como mandante e Joaquim Alves de Lara o executor (A Ordem, 29/11/1921: 2).

6. O caso Foschini/Dr. Giraldes
Lista era o prefeito em Santa Cruz e Eduardo Salgueiro em Ourinhos quando, aos 30 de outubro de 1919, véspera das eleições previstas, aconteceu tocaia para matar Fernando Foschini, este, porém, reagiu e liquidou um dos seus agressores, um policial, e reconheceu o outro que fugira.
Sob alegação de legítima defesa, Foschini contratou o advogado Francisco Giraldes Filho, decidido a apontar o sobrevivente e revelar o ordenador da tocaia, provocando reação do coronel Tonico Lista.
O Dr. Giraldes foi espancado a 18 de novembro de 1919 em Chavantes - SP, e, aos 08 de abril de 1920, Fernando Foschini sofreu emboscada fatal, recaindo sobre Lista suspeição de mando.

7. Alguns [outros] crimes a mando de Lista
Expedientes forenses revelam outros crimes de mandos ou envolvimentos de Tonico Lista em tocaias, assassinatos e espancamentos. (O Combate, 03/11/1921: 3), destacados a expulsão de Severino José de Moura e família das terras - Água do Serrado, que possuía a mais de três décadas; invasão à residência do médico Álvaro Camera, em 1918, ultimando-o deixar a cidade; entrada forçada no domicílio do capitão Theodorico José Teixeira Franco, renomado músico local, para agredi-lo fisicamente, com punhal, sem causar-lhe a morte, em 1914, e no ano de 1921 outra vez atacaria Theodorico, por este aliar a União dos Artistas de Santa Cruz do Rio Pardo aos oposicionistas.

8. Tríade 'legal' deter o coronel Tonico Lista
Dentre os inimigos de Tonico Lista, o juiz de direito Francisco Cardoso Ribeiro, onze anos depois de ser obrigado deixar, às pressas, a comarca de Santa Cruz, tornou-se o mais poderoso deles, ao assumir as secretarias da justiça e segurança do estado de São Paulo, em maio de 1920, no governo Washington Luiz, com poderes suficientes para garantir o triunfo da desforra contra o seu outrora algoz.
O Lista, prevendo tempos difíceis, transferiu a família - esposa e filhos, para a capital paulista Paulo, colocando a vendas seus bens no interior, intencionado em deixar o município. Por marra ou para não decepcionar companheiros deixou-se escolher prefeito pela Câmara Municipal em 1921.
Cardoso Ribeiro, primeiro cuidou em nomear para a Comarca, o juiz Arthur Mihich, o promotor Ricardo Gumbleton Daunt e delegado de polícia Coriolano de Araujo Góes, com ordens em prender Lista, todos tidos linha dura, com o objeto em enquadrar Tonico Lista.
Os acontecimentos não passaram desapercebidos: "Agora, o antigo juiz expulso de Santa Cruz do Rio Pardo transformou-se em secretário (...) e como ódio velho não cansa, soou a hora da vingança." (Correio da Manhã, in 19/05/1922: 2).
Fez mais o Cardoso Ribeiro, unindo os desafetos de Lista numa ala dissidente do PRP, à qual o nome Partido Municipalista.
—"Foi organizado nesta cidade o Partido Municipal, em opposição ao situacionismo local, mas filiado ao P.R.P. O directorio do novo partido ficou assim constituido: presidente, Arlindo Crescencio Piedade; vice-presidente, Cherubim Dias Chaves; secretario, dr. Ataliba Pereira Vianna: tesoureiro, Saul Ferreira e Sá: membros, dr. Pedro S[oares] Sampaio Doria, Albino Garcia, dr. Flavio Rodrigues, Arnaldo Ornellas de Siqueira [Arlindo Ornelas Figueira], José Epiphanio de Souza, Pedro de Andrade, dr. Julio F Leite, João Daveoti [Dalmati] e Moyses Nelli." (O Combate, edição de 17/03/1921: 1).
Aos 14 de abril de 1921 o novel partido político fazia ressurgir o hebdomadário 'A Ordem' - apenas o nome reaproveitado de homônimo extinguido uma década antes, como o seu órgão oficial.
—"Acham-se definitivamente installadas nesta cidade, no Largo da Independencia, as oficinas d'A Ordem e d'A Razão, semanarios respectivamente, da facção dissidente deste municipio e do de Ourinhos, desta Comarca". (A Ordem, edição de 02/06/1921: 1).
Outro semanário oposicionista, também fundado no ano de 1921, 'O Trabuco', trazia o lema 'Órgão Independente pela Justiça e Liberdade', e o coronel Arlindo Crescencio Piedade, presidente do Partido Municipalista, era colaborador dos dois periódicos, conforme rememoração de 1921, pelo articulista Waldomiro de Pádua Fleury, que assina Wald:
—"... vive a inventar infamias contra o seu amigo pro-tector e a publicar diatribes nos pasquins 'Ordem' e 'Trabuco', como testa de ferro, visto que, não sabendo escrever, tem apenas um serviço: distribuir os jornalecos atassalhadores da honra alheia e apontar aos beocios como elle uma infamia bem feita..."(Correio Paulistano, 11/04/1922: 7, "Panellinhas na justiça – Uma opposição de fancaria – Notas diversas").
O juiz Mihich e o promotor Daunt eram fortemente vinculados ao advogado Ataliba Pereira Vianna, 'Curador-Geral de Órfãos e Ausentes da Comarca', cúmplices nos julgamentos de interesses, atendendo os opositores de Lista:
—"Infelizmente, porém, todas essas miserias encontram apoio na pessoa do dr. Mihich, que, formando nas hostes da opposição, faz tudo quanto quer o meninote Ataliba Vianna (...). O promotor, então, esse é cousa sua. Como é um incompetente, consulta Ataliba Vianna a todo o momento, escrevendo, este, muitas vezes, o parecer que elle deve dar " (Correio Paulistano, edição de 11/04/1922).
Na política local, outro advogado destacava-se, o Pedro Soares de Sampaio Dória, assessorando os adversários e inimigos de Lista, com objetivo ordenado em provocar situações que levassem Lista à prisão; se não possível, a sua supressão.
Muitos dos processos já arquivados contra Lista foram reabertos, ao lado de outros em andamentos, e três averiguações foram destacadas nos quais o coronel denunciado como mandante: o espancamento ao advogado Francisco Giraldes Filho; o assassinato de Foschini; e o assassínio de José Rocha; e, ainda, feito repercutir:
—"Que foi o Coronel Antonio Evangelista da Silva o autor da morte de Emygdio Piedade Filho, mas, que não foi processado porque era chefe, e mandava na Justiça, e, em tempo, os jurados eram seus (...). Não depos isso na ocasião do [facto] por falta de garantias." (O Estado de São Paulo, 25/08/1921: 10, Antonio Evangelista da Silva, Processo Crime - dos autos, o 'Caso dos Irmãos Rocha', depoimento de Ozório Alves de Lara).

9. A prisão de Lista
Numa estadia com a família residente em São Paulo, por lá permanecera por mais tempo, acima do legalmente permitido, sem a oficialização devida para o vice ocupar a chefia do executivo em seu lugar.
Então, denunciado pela oposição, recebeu alerta de companheiros para reassumir o cargo, sob pena de perda do mesmo, e, assim, desembarcou na estação ferroviária local, aos 09 de outubro de 1921, quando preso por ordem do Juiz Arthur Mihich, considerando despacho de pronúncia em 06 dos mesmos mês e ano, mantido em sigilo.
O acontecimento alcançou manchetes e notícias nos principais jornais da grande imprensa e dos hebdomadários locais e regionais.
Patenteou-se que o juiz Mihich, no afã em prender e condenar Lista, revisara todo o corpo de jurados, sob o pretexto de elevação do nível conforme preceitos da Liga da Defesa Nacional, com isso descartados aqueles suspeitos partidários do coronel, escrivães, médicos, advogados e os mais importantes fazendeiros do município, para o quadro dos jurados, e deferidos apenas os declaradamente contrários ao réu, ou seja, aqueles políticos filiados ou vinculados com a oposição perrepista.
Em tais considerandos e outros, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, aceitou os argumentos da defesa, expostos nos autos e o coronel, aos 05 de dezembro de 1921 se viu livre da sentença condenatória, despronunciado e em posto liberdade, atuando a seu favor os advogados Altino Arantes, Julio Prestes e Raphael Sampaio, além do causídico local Pedro Camarinha.
Lista recuperou o cargo de prefeito e reassumiu as funções de chefe partidário, para organizar sua facção visando as eleições de 29 de abril de 1922, para os cargos de deputados e senadores do estado.

10. Atentado contra Lista
O despronunciamento de Lista, e, consequentemente, sua liberdade, trouxera preocupações aos correligionários quanto a possibilidade de algum atentado contra o líder. A oposição tinha a certeza que tal ataque ocorreria.
O coronel não ignorava os seus adversários e inimigos, contudo tranquilizava os companheiros: "Quanto ao meu assassinato, que os nossos inimigos pregam e propalam pelas esquinas e pela imprensa, peço aos meus correligionários que não se preocupem com isso. Eu não temo essas ameaças, nem lhes dou ouvidos." (Cidade de Santa Cruz', 19/12/1921, sob o título 'Aos meus companheiros').
Ainda que a aparente tranquilidade expressa pelo coronel, os dias antecedentes ao pleito de 1922 foram extremamente agitados. Os semanários situacionistas e oposicionistas digladiavam-se.
Na data anterior à votação os eleitores já haviam sido arrebanhados e postos no denominado 'curral' onde permaneceriam aguardando o momento de votação, e, na manhã 29 de abril, a fila estava grande para o sufrágio e, "em dado momento, os revolvers e as facas foram postos em scena)." (Correio da Manhã, 15/05/1922: 2), claramente um primeiro tiro em direção ao Lista e daí enfrentamento generalizado entre as partes, resultando mortos e feridos, e o coronel escapou ileso. Situação e oposição culpando uma a outra.

11. Atentado fatal contra o coronel
Na manhã de sábado, 08 de julho de 1922, ninguém em Santa Cruz do Rio Pardo estranhara a presença do soldado ou cabo Francisco Alves andando próximo do coronel Lista, por duas quadras da rua Saldanha Marinho – desde a morada do chefe político, na esquina com a [atual] rua Frei Marcos Righi, até o armazém do Zaeca - Mizael de Souza Santos, à rua Conselheiro Antonio Prado, pouco abaixo do antigo prédio da Câmara Municipal ou, da esquina da atual rua Farmacêutico Alziro de Souza Santos.
Lista aparentava tranquilidade, sentado à mesa, de costas para a porta do armazém, à rua Conselheiro Antonio Prado, quando, do lado de fora do estabelecimento, Alves sacou sua arma e disparou dois tiros contra o coronel, pela retaguarda, atingindo-o mortalmente, antes de pôr-se em desabalada fuga pela rua acima, com manifesta intenção em chegar ao Fórum e Cadeia Pública, na praça da República, atual 'Deputado Leônidas Camarinha'. O coronel Lista, contuso, ainda teve forças para apoiar-se ao batente da porta ou numa parede ao lado, fazer fogo e acertar o assassino, em um dos ombros, derrubando-o por terra, ferimento não fatal.
Lista foi socorrido e, por decisão médica, conduzido à São Paulo, acompanhado pelo facultativo Pedro Cesar Sampaio, numa composição férrea da Sorocabana, especialmente fretada, vindo falecer, durante a viagem, por hemorragia interna causada por dois projéteis de arma de fogo que lhe perfuraram os rins e o estômago, conforme atestado pelo médico legista dr. Carlos Gonzaga de Oliveira.
A morte do coronel ocorreu na madrugada de 09 de julho de 1922, por volta das 2,30 horas, próximo à estação de São Roque, e seu corpo, após necropsia e laudo cadavérico, velado na residência da família em São Paulo, e sepultado no Cemitério Araçá, no dia seguinte, 10, do mesmos mês e ano (Eclesial, Cemitério Araçá, SP: Livro de Óbitos, julho/agosto de 1922: 44).

12. A vida pessoal e familiar de Lista
Antonio Candido ou Evangelista da Silva, nasceu em São Simão - SP, ao 1º de setembro de 1867, filho de João Evangelista da Silva e de dona Marcolina Baptista de Jesus ou Bueno, batizado aos 7 de outubro de 1867 com "hum mez e seis dias (...), foram padrinhos Maximiano Baptista Bueno e Prudenciana Esmeria Vilella (Livro Eclesial – Batismos, São Simão, Livro 1845/1869: 143).
—O pai, João Evangelista da Silva, era filho de Ignacio Pinheiro de Toledo [ou Silva] e dona Prudencia de Jesus Lima, nascido em Machado - MG (Certidão de Óbito, Cartório Registro Civil de SCR. Pardo, Livro 137 C-17, fls 68, de 23 de março de 1926); todavia informações outras ditam-no natural de Campestre - MG.
—João e seu irmão José eram casados com as irmãs Marcelina [Marcolina] e Cândida, respectivamente, filhas de Maximiano Baptista Bueno e Jesuína Candida de Jesus. 
—Ignácio Pinheiro da Silva ou Toledo, já era falecido em 1864 (Machado - MG, Livros de Matrimônios, 1859/1866: 47, casamento de José e Cândida). 
Tonico chegou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1885, idade de dezoito anos, em companhia da família (O Contemporaneo, 08/09/1915: 1), onde já residentes alguns parentes na região, vindos da região mogiana, as famílias, Baptista, com representação em Afonso Celso; Baptista Bueno - destacados Ozório e Azarias; e Ferreira - cujo nome José Marciano foi o mais conhecido; e outros familiares e agregados que também residiram no antigo município e comarca de Santa Cruz do Rio Pardo.
Lista, como Antonio Candido da Silva figurou eleitor santa-cruzense inscrito em 1890, idade de 23 anos, solteiro, comerciante, à mesma maneira qualificado até 1893 quando, em 1894, teve o nome lançado no rol de votantes como Antonio Evangelista da Silva. 
Apesar da troca de nome desde 1894, em 1896 aparece ainda como Antonio Candido da Silva, capitão, eleito 3º Juiz de Paz Almanak do Estado de São Paulo, 1896 edição 1897: 89. Jornal do Brasil, 23/01/1896: 3), e, apenas aos 08 de outubro de 1897 informaria legal e publicamente: "Antonio Cândido da Silva, sócio solidário da casa commercial que nesta praça gyra sob a firma Silva & França, declara, para todos os fins, que de hoje em diante passa a assignar-se Antonio Evangelista da Silva (Correio Paulistano, 19/10/1897: 3, e outras publicações).
São poucas as referências que dele se tem dos tempos de Antonio Candido, pois sempre foi Tonico Lista ou, mais formal, Antonio Evangelista. O semanário santa-cruzense 'Trabuco', edição de 23 de outubro de 1921, quando Tonico se encontrava preso, em tom sarcástico expressou: "E tú, Tonico Lista, ou Antonio Cândido, gostaste da cadeia"?
Não se conhece a causa para a mudança nominal, todavia, especulou-se, o fora por exclusão associativa do nome anterior com os crimes cometidos em 1892, o que não parece o correto, e sim, que tenha sido para adequar-se à forma como era conhecido e tratado, Antonio Evangelista, seguido com o 'da Silva'.
Dos familiares diretos do coronel são conhecidos os pais, a irmã e o marido desta, José Nestor de França.
Lista fizera-se próspero comerciante e fazendeiro na região, cafeicultor maior, 'grileiro de terras' e exercente chefe político, visto bandoleiro pelos adversários, cognominado Ciganinho, "como muitos o chamavam pejorativamente"(Rios, 2004: 87), talvez por imaginário ou real uso de trajo, tipo pala, para esconder uma carabina, ou por anticiganismo, quando cigano era, numa visão geral, sinônimo daquele que obrava o mal. 

12.1. A amante Maria Antonia do Espírito Santo 
Ainda jovem Tonico Lista teve relacionamentos com a meretriz Maria Antonia, dona de casa de prostituições, que entrou para história por estar ao seu lado na fatídica noite de 10 de junho de 1892, quando o Lista, em alegada e aceita legítima defesa por júri popular, assassinou um policial e feriu outro, que morreria pouco depois, ambos da escolta da diligência e captura da Força Pública de São Paulo, de passagem por Santa Cruz. 

12.2. Um filho não reconhecido
Conjunto de memórias, transmitidas oralmente, indicam relacionamento amoroso entre Tonico Lista e sua prima, Maria Rita da Conceição, nascida em Caconde (SP), filha de Manoel Coelho da Silva e Maria Balbina de Lima.
Maria Rita aos vinte anos de idade, moradora com a família em Santa Cruz, engravidara-se do parente nascendo-lhe Benedicto, aos 12 de maio de 1902. Tonico não reconheceu o filho, então natural de Maria Rita de acordo com o registro cartorial nº 2175, de 12 de julho de 1902, e assento eclesial de batismo nº 5878, igual data de 12 de julho de 1902.
A jovem Maria Rita, em 1908, foi desposada por Gustavo José Marques, que reconheceu Benedicto por legítimo filho, sendo testemunhas João Evangelista da Silva e Emygdio Piedade Filho, com atenções ao primeiro, o avô paterno do filho de Maria Rita (Eclesial, Santa Cruz do Rio Pardo, Matrimônios, 1905/1912: 59-60). 
—Benedicto trabalhou no Fórum de Santa Cruz do Rio Pardo, como Oficial de Justiça (DOSP, 25/01/1955), foi casado com Izabel Bueno Barboza e deixou por descendência a família Bueno Marques - Julieta e Benedito. De Gustavo José Marques, o pai adotivo, se sabe nascido em Conceição da Boa Vista - MG, no ano de 1864, filho de Manoel José Marques e Anna Luiza do Nascimento; e, em Santa Cruz do Rio Pardo, Gustavo Marques trabalhou como fiscal da Câmara, exonerado, a pedido, em janeiro de 1905 (O Progresso, 29/02/1905: 2); tido partícipe político ou simpatizante do grupo 'sodrelista' (Correio do Sertão, 10/10/1903: 3) proprietário de terreno urbano e bar próximo a estação da Estrada de Ferro Sorocabana (Prefeitura Municipal, 11/12/1924); e capitão da Guarda Nacional (A Cidade, 18/07/1926: 3).
A descendência de Lista, por Benedito Marques, é tida real, os parentes discretamente se identificam, sendo a verdade aceita pelos autores, exceto se contraditada por DNA.
Benedito morreu em 1968. 

12.3. Casamento com a viúva do Botelho 
Tonico Lista casou-se com dona Guilhermina Brandina da Conceição, viúva do coronel João Baptista Botelho, no religioso aos 17 de julho de 1904 (ACMSP/SGU, SCR. Pardo - Matrimônio, 17/07/1904, Livro 1900/905: 81) e no civil em novembro de 1913: "(...) effectuou-se no dia 18 do corrente o acto civil do consorcio do cel. Antonio Evangelista da Silva, acatado chefe político neste municipio, com a exma. d. Guilhermina Brandina da Conceição." 
O casal teve os filhos: João (1905), Rita (1907) e Alice (1909); D. Guilhermina tinha a idade de 39 anos quando do seu casamento com Tonico Lista, ou seja, tivera seus filhos na idade de 40, 42 e 44 anos, respectivamente. 
Lista cuidava e se preocupava com a família constituída, com seguranças em casa e para si, e por guarda-costas de sua mulher, segundo as tradições, mantido o ex-escravo de dona Guilhermina, Luiz Antonio Pereira, vulgo 'Luiz de Saia', conhecido pelo hábito de usar tal de vestimenta, em vez de calças, que bem escondia arma de fogo ou outra qualquer.
—O 'Luiz de Saia' nasceu cativo, em Brotas, no ano de 1863, e, mesmo liberto continuou a serviço da família Narcizo Gonçalves, depois, acompanhou dona Guilhermina, como protetor, desde quando seu casamento com o coronel Botelho. 
Em 1921 Lista teria transferido a família para São Paulo e, no mês de fevereiro de 1922, adquirido imóvel residencial próprio na capital à rua Itambé (Correio Paulistano, 04/02/1922: 7), permanecendo ele em Santa Cruz onde era o prefeito. 
—Lista vendera muitos de seus bens, inclusa a fazenda Mandaguahy, o que faz pressupor ideação em retirar-se do lugar, após cumprimento de mandato político. Por conseguinte, mera especulação o envolvimento amoroso de dona Guilhermina com o juiz dr. Arthur Mihich, por isto sua retirada do município. 
Guilhermina, enviuvada, assumiu matrimônio com Victor Ressi, em São Paulo, sem deixar descendentes, vindo a falecer em Santa Cruz, com idade de 64 anos, aos 18 de junho de 1929, e seu óbito noticiado na Capital onde destacara-se figura proeminente na sociedade paulistana (Correio Paulistano, 19/07/1929: 7).
Dona Guilhermina, em vista do que antes possuía, morreu particularmente pobre, com apenas três prédios urbanos em Santa Cruz do Rio Pardo:, um na rua Benjamin Constant, e outro na rua Coronel Emygdio José da Piedade esquina com a atual Catarina Etsuko Umezu, tendo aos fundos o terceiro imóvel (Cartório 2º Tabelião de SCR. Pardo, Livro 113 - 1º Traslado, fls. 164; documento gentilmente cedido por Benedicto Celso Severino Martins). 
Os herdeiros de Lista, no decorrer de quatro décadas, dissiparam todos os bens, as fazendas São João/Anhumas - em São Pedro do Turvo; Jacutinga e Engano, em atual município de Duartina e outras menores, algumas contestadas por longas demandas, e terrenos urbanos alienados a particulares, e aqueles na antiga praça denominada Antonio Evangelista da Silva, negociados a municipalidade. 
A praça situava-se entre as ruas Benjamin Constant, Cyro de Mello Camarinha - atual, Marechal Bittencourt e a avenida Tiradentes.
Também ocorrida a venda da mansão em São Paulo, e, tradições apontam que até o terreno com o jazigo, onde sepulto o coronel, foi alienado, o que pode ser comprovado pela não mais localização do mesmo nos registros do cemitério Araçá, na capital paulista. 

12.3.1. Dos filhos com dona Guilhermina
As informações são poucas, e, delas, respeitadas as vontades pelo silêncio familiar, quase nada se tem.
O filho João, conhecido por Joãozinho, tornou-se exímio enxadrista brasileiro, morreu solteiro, por volta de 1986. Em sua juventude assassinou o primo Luis Besana, que tentava apartar uma briga sua com o Leônidas Camarinha, aquele que viria ser um dos maiores vultos políticos de Santa Cruz do Rio Pardo (Besana - Família, Rede Social, CD: A/A). 
As filhas, desde 1921 residentes em São Paulo. Rita casou-se com dr. Ataliba Piedade Gonçalves, e Alice contraiu matrimônio com o advogado dr. Celso Vieira.
—Ataliba, filho do cel. [Francisco] Clementino Gonçalves [da Silva] e dona Maria Perpétua Piedade.
Celso Vieira, filho de Pedro Augusto Vieira e Francisca Vieira, experimentou carreira política em 1933 candidatando-se a deputado federal, constituinte, pelo Partido da Lavoura santacruzense, obtendo a 6ª Suplência da sigla.
—Celso ocupou cargos públicos, incluso Censor de Imprensa em São Paulo, sendo reconhecido orador e membro do Partido Constituinte; residiu por alguns anos em Santa Cruz, onde exerceu a advocacia, além de fazendeiro. No ano de 1950, outra vez sem sucesso, disputou vaga para a Câmara.
Carta publicada pelo semanário Debate, edição de 18 de março de 2012, revelou em Lisboa - Portugal:
"Pedro Francisco do Valle Vieira Filho, nascido de Pedro Francisco do Valle Vieira, neto de Celso António Evangelista Vieira, bisneto de Alice Evangelista Vieira [casada com Celso Vieira] e, assim, trineto do coronel Tonico Lista."